É bonito, é bonito e é Bonito!

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Férias no Brasil, ótima oportunidade para conhecer melhor nossas gentes e culturas, nossas belezas e encantos. Desta vez, elegemos Bonito, no estado do Mato Grosso do Sul. Lá, pude ver que com trabalho, dedicação e visão de futuro, o turismo não só dá certo, como também é a principal e quiçá a melhor forma de distribuição de renda entre a população.

O município investe em sua gente e prepara os cidadãos para o atendimento ao turista, que é impecável no quesito simpatia e receptividade. Bonito parece ser o estudo de caso perfeito para a atividade turística que gera emprego e renda. A região, que tinha economia voltada predominantemente para a pecuária e mineração (atividades concentradoras de renda), demonstrou que com empenho e organização é possível transformar a realidade local e melhorar a qualidade de vida da população.

Estivemos em Bonito durante a semana do Festival de Inverno. Foi a 16ª edição e, com recursos limitados, a prefeitura não conseguiu trazer todas atrações que gostaria. A artista homenageada da região foi a cantora Delinha. Fiquei encantada com ela, uma senhora de 80 anos, firme, cantando, contando causo e tomando umas pingas, que ela adora! Não a conhecia e tive oportunidade de vê-la cantar ao vivo, gostei demais. Depois do show dela, Almir Sater, que dispensa apresentações e ainda teve a companhia do Sergio Reis e do Renato Teixeira.

Àqueles que queiram incluir Bonito à sua lista de locais para conhecer no Brasil (vale a pena!), deixo aqui minhas impressões, quem sabe não ajuda um pouco?

Um pouso em meio a bonitezas

Para chegar em Bonito, pode-se ir de avião até Campo Grande e de lá alugar um carro, tomar um ônibus ou contratar um transporte de uma das agências de viagens locais. Preferimos ir de avião, pois tem um voo que faz o trecho Campinas-Bonito às quartas-feiras e aos domingos. A aventura já começa no ar: a aeronave é turbo-hélice!

Há muitas opções de hospedagem em Bonito: pousadas, hotéis e hostels. O Booking e o Trip Advisor podem ajudar na escolha. Reservamos uma pousadinha pequena e rústica: a pousada Chalé do Bosque é encantadora e boa parte deste encanto vem dos proprietários, que residem lá e são pessoas ótimas para um bom papo e muito receptivas.

São apenas seis chalés em meio à natureza do cerrado. O proprietário é apreciador de plantas e aves. Instalou alguns coxos com comida e água e as aves se achegam. É um paraíso para fotografar! Na pousada, vimos periquitos-rei, maritacas, sanhaços, gralhas, canarinhos, rolinhas e até um tucano, que uma bela manhã deu o ar de sua graça em uma árvore próxima à nossa varanda. Para quem quer uma hospedagem mais rústica e próxima à natureza, este é o local ideal.

A estadia é boa, mas a única refeição que é possível fazer na pousada é o café da manhã. Jantar lá é impossível, não tem restaurante. Querendo, pode-se pedir sanduíche ou pizza que os motoboys levam. A pousada está um pouco afastada do centro (30 minutos a pé) e num dia em que os passeios tenham cansado e ficar quieto por lá seria a opção ideal, poder fazer as refeições localmente faria bastante diferença.

Em Bonito, a internet é lentíssima e, claro, o sistema atinge nossa querida pousada, que oferece wi-fi gratuito.

Tem fome de que?

Todo mundo recomenda comer a traíra sem espinha do restaurante Casa do João. Seguimos a recomendação, mas esperávamos mais, dada a propaganda. A grosso modo, a “iguaria” é praticamente um peixe à milanesa. Fomos servidos em menos de 15 minutos, o que nos levou à conclusão de que a comida está sendo feita em “escala industrial” – com isso, perde-se sabor e qualidade.

Errar na pizza é algo difícil, mas lá, conseguiram. Se não quer ter essa desagradável experiência, fuja da Pache Pizzaria.

O Pastel Bonito é até bom, mas não tem nada demais, é como um pastel da pastelaria Viçosa aqui de Brasília. Mas eles têm boas marcas de cerveja e opções exóticas, como o pastel de carne de jacaré (que é caríssimo).

Tomamos o caldo pantaneiro no restaurante Arco-Íris. Espero, sinceramente, que o prato servido nessa ocasião não seja representativo do verdadeiro caldo pantaneiro. Ralo demais, as carnes concentradas no fundo da tigelinha, temperatura quase inaceitável para caldo. Essas experiências nos levaram a concluir que Bonito está longe de ser um point gastronômico.

Agradável surpresa foi a lanchonete Vício da Gula. Sanduíches deliciosos e sucos naturais a ótimos preços. Os sucos vêm em jarras de 1 litro. Para lanches rápidos (dependendo da programação, há dias que não dá tempo de almoçar) é a melhor pedida na cidade, excelente relação custo-benefício. Além disso, há tortas e doces de frutas regionais.

Como fez calor, tomamos um sorvete na Delícias do Cerrado, que oferece sabores de frutas regionais. É tanta opção, que fica difícil escolher. Tomamos um picolé de guavira e outro de murici. Gostamos, valeu a pena experimentar e recomendamos.

Em duas noites, jantamos no restaurante Aipim, da Pousada Olho d’Água. É um restaurante metido a gourmet, mas comete alguns erros (perdoáveis). Optar pelas massas do cardápio pareceu-nos a melhor pedida neste restaurante. A carta de vinhos é modesta e razoável.

Num dia em que o almoço foi bem farto numa fazenda, optamos por jantar leve. No restaurante Casarão, comemos uma salada completa e pedimos uma porção de bolinhos de pintado para acompanhar. Foi a pedida perfeita! A salada é bem servida e variada, gostamos muito, e o bolinho é honesto. Eles têm buffet no almoço, R$ 33,00 por pessoa, servindo à vontade.

E a agradabilíssima surpresa de Bonito, em termos gastronômicos, foi o restaurante Tapera. Comemos um pintado na telha divino – deu de mil na traíra sem espinha do outro restaurante. A sobremesa é cortesia e eu experimentei a mousse de guavira. Deliciosa! Fiquei com gostinho de quero mais. E com o plus de o proprietário ser o idealizador e pioneiro da atividade turística em Bonito. Esse restaurante foi o primeiro da cidade. O preço é praticamente o mesmo da traíra, mas a relação custo-benefício é bem melhor – recomendo sem medo.

Bora passear!

Todos os passeios em Bonito são acompanhados por guias turísticos, ninguém vai sozinho. Os guias são bem preparados, mas alguns não falam inglês, apesar da enorme afluência de estrangeiros; por sorte sempre tem alguém para ajudar (é um ponto que ainda precisa melhorar em Bonito). Todos os passeios devem ser marcados em agências, com antecedência de pelo menos um dia (depende do passeio); não adianta simplesmente chegar ao local e querer fazer. São todos tabelados e a concorrência entre agências fica por conta do atendimento, simpatia e eventual desconto e cortesias conforme o número de passeios contratados.

Passeamos bastante, tentamos aproveitar ao máximo as diversas opções em Bonito. No total, fizemos dez passeios em seis dias. Abaixo, minhas impressões sobre as atividades das quais participamos.

Nascente Rio Sucuri

Apesar do nome, não vi nenhuma sucuri por essas bandas, mas nascentes, vi várias. O passeio está localizado na Fazenda São Geraldo, próximo a Bonito. O proprietário tem atividades diversificadas: pecuária de corte, arrenda terras para agricultura e o ecoturismo.

Fizemos nossa primeira flutuação. A operação é perfeita, sincronizada e muito organizada. Primeiramente, somos recebidos por um guia, que nos leva aos vestiários, onde vestimos as roupas de neoprene e calçamos as botinhas. Em seguida, já munidos de máscaras e snorkels recebemos instruções sobre a flutuação e fazemos um rápido treinamento na piscina. Daí, seguimos para o rio em um caminhãozinho (tipo pau-de-arara mesmo), mas antes fizemos uma pequena trilha e visitamos algumas das 13 nascentes do Rio Sucuri. Só depois disso iniciamos a flutuação pelo leito do rio por 1.500 m e tivemos a oportunidade de observar piraputangas, dourados, cascudos, lambaris, muitas conchas de caramujos e uma vegetação aquática exuberante.

É incrível o quanto a água é cristalina, devido à quantidade de calcário no solo. A água em Bonito é rica em cálcio e magnésio e, portanto, é preciso parcimônia para bebê-la. O aspecto azul da água (um colorido lindo, especial) deve-se à quantidade de calcário juntamente com a refração da luz. É um espetáculo!

Enquanto flutuávamos, fomos fotografados pela equipe da fazenda. As fotos foram vendidas posteriormente, caríssimas e eles não fornecem o arquivo eletrônico. O serviço deles é até bem feito, mas é muito caro e pouco prático.

Do grupo que flutuou conosco, fizemos uma amizade interessante com um casal carioca, idealizadores e bravos mantenedores da Creche Nosso Lar. Ele contou-nos sua história e vimos tratar-se de um homem realmente especial, um casal unido e batalhador, não apenas para si e sua família, mas também pelos mais necessitados. Aprendemos muito com eles em menos de uma hora de papo. Nossos passeios começaram muito bem!

Almoçamos e depois fizemos um bike tour nas trilhas da fazenda e dentro de uma matinha, com uma parada para banho em uma cachoeira. Pudemos observar algumas aves e um bando de macacos-prego, que atravessaram nosso caminho após roubar cana. O bike tour foi até legal, é bem levinho, qualquer um pode fazer.

Fazenda Ceita Corê

Nosso segundo dia de passeios foi de trilha pela mata e cachoeiras, na Fazenda Ceita Corê, que significa “terra de meus filhos” em tupi guarani. Durante a trilha, atravessamos quatro longas pontes suspensas e balançantes (por um momento achei que era arvorismo). E ainda teve uma carretilha para cair na água.

Servimos de almoço para inúmeras espécies de mosquitos durante o trajeto que nos levaria a seis cachoeiras. Cada uma mais bonita que a outra. O guia que nos acompanhou era conhecedor das plantas do cerrado e suas utilidades, com destaque para o uso medicinal.

Além dos mosquitos pudemos observar vários animais bem mais interessantes. Vimos até uma colônia de lagartas, no tronco de uma árvore bem próximo onde passamos, alguém poderia ter se machucado feio. Vimos curicacas, frangos d’água, irerês, pica-pau, chupim do brejo, jaçanã, emas, seriemas, garças e araras. Em uma das paradas para banho, muitas borboletas de várias espécies, diversidade de cores e tamanhos, muito lindo.

Almoçamos na fazenda e depois visitamos a nascente. Curioso demais! Há alguns anos, uma figueira caiu e só então é que descobriram que ali embaixo estava a nascente do Rio Chapena. É um buraco que dá para uma caverna de 155 m de profundidade (o máximo que alguém conseguiu chegar; a profundidade total é desconhecida) e vazão de cerca de 1000 litros por segundo de água pura e cristalina. Ninguém sabe a origem dessa água.

Esse grupo foi o melhor dos passeios. Conversamos com várias pessoas e fizemos novos amigos, com quem estamos mantendo contato pelas redes sociais, já que eles são de Fortaleza. Vejo aí o início de uma linda e duradoura amizade!

Bote Queda d’Água

Começamos o terceiro dia com um passeio emocionante. O transporte que contratamos nos deixou numa fazenda e um casal de mutuns passou bem perto de nós, sem demonstrar medo como, aliás, é característico dos animais da região, onde é proibido caçar e pescar. Antes do passeio, vestimos coletes salva-vidas e nos acomodamos num bote inflável, após uma breve explicação sobre as posições durante as quedas d’água num trecho de cerca de 2 km do Rio Formoso.

O grupo que foi conosco era bem interessante. Havia duas famílias com adolescentes e um deles tinha paralisia cerebral. Como esse menino curtiu o passeio! Foi na frente no bote e era o primeiro a se molhar nas quedas mais altas. Ele foi abençoado com superpais!!

O passeio já começou com uma pequena queda e já inauguramos a “posição cachu”, como nomeou um dos teens presentes. Durante a travessia, pudemos avistar aves (tucanos e biguás, principalmente) e uma sucuri tomando o sol matinal numa árvore.

Antes de alcançar o deck final, um mergulho gostoso nas águas do Rio Formoso. É difícil levar câmera em passeios assim, de forma que nos foi oferecido comprar um CD por R$ 70,00, que inclui as fotos de nosso passeio, fotos da fauna e flora de bonito e um vídeo sobre várias atrações turísticas. É meio caro, mas compramos assim mesmo; queríamos fotos dessa divertida aventura. Não fosse minha falta de jeito com o Windows 10, teria fotos desse passeio pra mostrar. Pois é, perdi todas!

Aquário Natural

Ficou tudo tão em cima da hora que não deu tempo de almoçar antes da atividade seguinte. A motorista que nos levou era a proprietária de um dos transportes de Bonito uma businesswoman. Para nós isso foi péssimo, pois acabamos tendo que nos adaptar ao horário dela, uma pessoa ligeiramente irritante, dessas que têm uma risadinha nervosa.

Bom, pelo menos o passeio foi legal. Nosso grupo de 10 pessoas era composto por duas famílias holandesas e nós dois brasileiros. Houve toda aquela operação de roupa de neoprene, botinha, máscara, snorkel, treinamentozinho na piscina, lembrando que em nenhuma das flutuações é permitido tocar os pés no chão, por óbvias razões.

A trilha dessa propriedade é muito bem cuidada, suspensa para não provocar erosão no solo com o trânsito de tanta gente.

Chegamos à nascente e a água cristalina e límpida já nos encantou com seu azul turquesa e a visão de muitas piraputangas. Flutuamos aí por cerca de 30 minutos, me senti dentro de um aquário mesmo. Grande riqueza e diversidade de espécies de peixes, além da flora submersa.

As crianças de uma das famílias sentiram medo; os peixes, inofensivos, eram bem graúdos e elas se assustaram. Fizeram o passeio no barco, enquanto os pais curtiam nossas transparentes águas tropicais.

Depois do aquário, flutuamos pelo leito do Rio Formoso por mais 50 minutos. Vimos muitas piraputangas, eram tantas que elas se esfregavam nas nossas pernas, nadavam conosco, ao nosso lado ou vinham em nossa direção e se desviavam no último segundo, evitando a trombada. Vimos também cardumes de corimbas, de mato grosso (um peixinho pequenino, de cor vermelha), joaninhas.

Na trilha de volta, vimos um jacaré descansando numa lagoa. Seguindo a trilha, encontramos um bando de catetos, um tipo de porco do mato. E chegando ao ponto final, vimos uma cutia e um bando macacos-prego, que posaram para minha lente!

Nesse passeio também nos vendem CD com as fotos por R$ 60,00. Não pudemos nem apreciar direito o local (que nos pareceu bem agradável), porque a dona do carro estava com pressa. Foi só pagar o CD e sair.

À noite, depois de uma desastrosa pizza, nos encontramos novamente com nossos amigos cearenses e terminamos a noite tomando caipirosca e batendo um bom papo, enquanto cantores sul mato-grossenses cantavam no palco do 16º Festival de Inverno. Combinamos de jantar juntos no dia seguinte.

Grutas de São Miguel

Definitivamente, aqui temos a prova mais contundente do quanto um grupo pode interferir na qualidade de um passeio. Estávamos com um casal e mais três famílias com crianças. As crianças eram até razoáveis, o problema mesmo eram os pais, mal-educados, falando alto o tempo inteiro. Passeio em gruta não combina com este tipo de companhia.

Antes de começar o passeio, fomos presenteados com a chegada de um casal de araras vermelhas, que se alimentava no local. Lindas, saudáveis, livres, felizes e mansas. Ali nada pode lhes acontecer.

Voltando ao nosso assunto, a região da Serra da Bodoquena, onde se localiza Bonito, possui mais de 500 grutas catalogadas, mas apenas sete estão abertas à visitação. A gruta de São Miguel é seca e apresenta formações bem interessantes. Tem três entradas por onde passa luz, mas ainda assim nosso trajeto foi bem escuro e precisamos usar lanternas.

A guia que nos acompanhou pareceu-me boa, mas sua atenção teve que ser direcionada para as famílias, que mal deixavam-na falar. Antes do final do passeio, uma das crianças começou a chorar e as famílias foram embora. Melhor para nós e o outro casal, que pudemos apreciar o silêncio nos minutos finais.

A gruta de São Miguel é até legal, mas as grutas secas de Minas, a meu ver, são bem mais bonitas!

Cartão postal: Gruta do Lago Azul

A imagem de cartão postal mais conhecida de Bonito certamente é a Gruta do Lago Azul.

Pouco depois de chegarmos ao local, fomos surpreendidos com mesmas famílias do passeio anterior. “Socorro” – pensei, faria qualquer negócio para não ir com eles. Por sorte, nos colocaram no grupo posterior, na companhia de uma família gaúcha, aficionada por fotos, mas com equipamento bem precário.

Esta gruta é surpreendente! Não por acaso é a única tombada pelo IPHAN na região. Percorremos uma pequena trilha (uns 300 m) até a entrada da gruta, onde o guia nos conta alguns detalhes. A gruta do lago azul foi descoberta por índios no início do século XX. Mais recentemente, mergulhadores descobriram no lago fósseis de mamíferos do pleistoceno, tigre-dente-de-sabre e preguiça gigante.

Descemos 100m numa escadaria para chegar até o lago, cuja profundidade é de cerca de 90 m e ainda não se sabe de onde vem tanta água; é uma das maiores cavernas inundadas do mundo. Acredita-se que haja um rio subterrâneo que alimenta o lago, mas nada comprovado ainda. Uma espécie de camarão albino vive lá, totalmente adaptada às condições de escuro e frio.

A vista é belíssima. Muitos espeleotemas formando figuras divertidas ao longo da escadaria. O fenômeno que gera a coloração azul turquesa se dá por uma combinação da refração da luz e a presença de minerais no solo.

Os guias são muito bem preparados para as fotos e nos auxiliam a regular nossos equipamentos para que as cores possam aparecer, mesmo com pouca luz. Se tem um passeio imperdível em Bonito, é este!

Boia Cross

Tempo para almoçar = zero. Engolimos um pão com presunto e queijo que compramos na noite anterior e fomos para o Hotel Cabanas, onde é oferecida a atividade boia cross.

O grupo em que fomos inseridos salvou o dia das companhias chatas. Eram casais jovens (meu marido e eu éramos os coroas da vez) e bem divertidos.

Em boias individuais, descemos o rio Formoso por 50 minutos despencando por corredeiras e quedas d’água. Divertidíssimo! No final, os instrutores nos derrubaram da boia para um mergulho.

O staff do hotel também fotografa o passeio e depois vende o CD com as fotos por R$ 40,00. Foram as fotos mais engraçadas da viagem e foi passeio o em que eu mais me diverti. Eu o faria novamente, sem sombra de dúvida.

Saímos do Hotel Cabanas e o carro nos deixou num prédio alto: hora do treino de rapel para o abismo Anhumas, a aventura do dia seguinte. O sem jeito mandou lembranças pra mim, mas mesmo assim, ao completar a segunda subida, o rapaz que me esperava na plataforma me falou: “você nasceu pra isso [debochado!], até amanhã”. Achei que não aprovariam minha performance, mas eles acharam que eu seria capaz de subir 72m de rapel para sair da caverna. Daí, fomos reservar as roupas de neoprene para a flutuação na caverna.

Terminamos o dia com um agradabilíssimo jantar com nossos amigos de Fortaleza. Ufa!

Abismo Anhumas

Cedinho já estávamos prontos para a grande aventura. Fomos numa van e parte dos passageiros era de nosso grupo, outra parte era do grupo seguinte.

Antes de descer na caverna, a instrução era ir ao banheiro (químico). Um dos instrutores, o mais experiente, propôs que fôssemos içados na subida, pois havia muita gente naquele dia e nosso ritmo era mais lento, poderíamos atrasar os demais. Topamos na hora (não posso reclamar da sorte, que alívio!).

Conhecemos um casal que havia sido reprovado no treinamento, mas eles insistiram muito e acabaram indo, já com a determinação de serem içados na volta, não dariam conta mesmo. Vamos combinar, minha gente: se os instrutores me falassem que eu não daria conta, eu não discutiria, afinal eles são os experts no assunto. Quem sou eu para discordar ou insistir? Eu bem que torci para eles me reprovarem, mas o treino funcional dá uma resistência boa, fazer o quê?

Bom, fomos os últimos a descer de nosso grupo, após fotos, claro. O início é uma fenda um pouco estreita e depois que ganhamos o vão entrelaçamos as pernas. É muito alto! Nossa estratégia, já que estávamos de frente um para o outro, foi olharmos nos olhos enquanto descíamos. Funcionou, nada de pânico, chegamos bem ao deck; vencemos os 72m de descida.

A primeira visão lá de baixo é incrível, difícil de descrever. Entra luz apenas por um lugar e boa parte da caverna é totalmente escura. Depois que nossa visão se acomoda com a pouca luz, percebemos que estamos diante de um espetáculo que palavras não traduzem fielmente o que testemunhamos.

Depois deste primeiro impacto, nos dirigimos ao segundo deck, onde uma instrutora já nos esperava com as roupas de neoprene, nos paramentamos e entramos na água gelada. Acreditem, havia vários lambaris!

Foram distribuídas lanternas e iniciamos a flutuação, seguindo nossa guia, que nos apontava ossadas de animais que caíram na gruta, além das belas formações submersas. Contornamos uma parte significativa da caverna, durante 30 minutos. Nunca havia feito nada igual e provavelmente nunca farei. Não devem existir muitos lugares como esse no mundo. Talvez seja o único, e fomos agraciados por tê-lo ao nosso alcance.

Ao sairmos da água, trocamos de roupa num vestiário improvisado. É impossível ficar na caverna com roupas molhadas. Comemos um sanduichinho que levamos e aguardamos o passeio de bote.

Nesse passeio, apreciamos as formações não submersas, vimos mais ossadas de animais e muitas fezes de morcegos. Morcegos mesmo não chegamos a ver nenhum.

Terminamos o passeio de bote e nos preparamos para a subida. Fui a primeira de quatro a ser içada. Tive muito medo. Houve um momento em que pararam de me puxar e fiquei pendurada no meio da caverna, numa altura danada. Apelei para todos os santos, que os moços estivessem só descansando um pouco e que não fosse um problema com as cordas. Não sei quanto tempo fiquei ali pendurada, mas me pareceu uma eternidade. Voltei a subir velozmente (alívio) e parei ao chegar na fenda. Segurei um pouco nas pedras para estabilizar, me ralei um pouquinho, mas rapidinho já estava sã e salva com os bravos heróis que me resgataram das espeleoprofundezas. Eu fui o aquecimento. Os outros três eram mais pesados.

Este é o passeio mais caro de Bonito (põe caro nisso!), mas valeu cada centavo. A equipe de instrutores é formidável; são os mais bem preparados da cidade. Não podia ser diferente. A atividade mete medo, mas é segura e só vai quem tem o aval da equipe.

À noite, comemoramos nossa aventura com massa e uma garrafa de vinho!

Buraco das Araras

No último dia, sobraram os passeios mais “tranquilos”. Começamos visitando o Buraco das Araras.

Trata-se de uma dolina, um tipo de formação cárstica, é uma espécie de depressão, lembra um penhasco, mas tem limites e formato arredondado. Muitas araras e até outras aves nidificam nesse local, mas não foi sempre assim.

Naturalmente, os primeiros habitantes da dolina eram as araras. Mas antes de Bonito ser o paraíso que é, até a década de 80, a coisa era feia. Algumas pessoas praticavam tiro ao alvo com as araras e as diferenças entre alguns eram resolvidas lá: era um ponto de “desova” de corpos de pessoas assassinadas. Tudo isso atraía urubus e espantava as araras.

Quando a área foi comprada pelo atual proprietário, para criação de gado, ele percebeu a presença dos urubus e descobriu o problema. Cercou e vigiou a área, as atividades ilegais cessaram e ele ganhou um casal de araras e as levou para a dolina. Com o tempo, as araras vermelhas foram voltando e agora há vários casais vivendo e se reproduzindo lá. Desde 2007, o Buraco das Araras e os 29 hectares que o circundam constituem uma Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Os animais vivem soltos, em estado “selvagem”, mas estão acostumados com a presença humana, são mansos, mas mantêm uma distância de segurança. Elas se alimentam de vários frutos locais, especialmente o buriti. Para agradar os turistas, os proprietários instalaram um bebedouro no alto de uma árvore. É o melhor local para observá-las de perto e fazer fotos. Um espetáculo!

Além de araras, vimos outros psitacídeos, principalmente o periquito-rei e as maritaquinhas.

De volta à van, seguimos para o próximo destino: o Recanto Ecológico Rio da Prata.

Rio da Prata

Nosso último passeio foi o mais recomendado por amigos que já estiveram em Bonito. E valeu a pena esperar! No meu entendimento, a melhor flutuação das que fizemos. Uma pena que não tenham serviço de foto… Uma vez mais, forte presença estrangeira no grupo.

Antes de chegar ao local da flutuação, fizemos uma caminhada de 40 minutos pela matinha, com aquelas roupas de neoprene pretas e apertadas. Pudemos apreciar perobas rosas, angicos pretos, jatobás, entre outras árvores de nossa rica flora. Percebemos a presença de catetos pelo forte odor que eles deixam para espantar possíveis predadores, mas não vimos nenhum. Vimos também um tatu e uma cutia.

Começamos a flutuação pelas águas cristalinas do rio Olho D’água. O nome é bem apropriado, já que pudemos ver uma quantidade bem grande de nascentes ao longo de seu leito. Há um ponto, já próximo à desembocadura no Rio da Prata, chamado vulcãozinho, onde a força da água que brota das nascentes reunidas contra a areia forma uma imagem que remete a uma erupção, guardadas as devidas e enormes proporções.

Durante o trajeto neste rio de águas muito cristalinas e visibilidade perfeita, pudemos ver muitas espécies de peixes. Sem dúvida, é a flutuação com mais diversidade de espécies e quantidade de indivíduos nos cardumes. Na área do vulcãozinho, encontrei um cardume imenso do corimbas, mansinhas. Dentre as espécies observadas, destacamos corimba, piraputanga, dourado, pacu, mato grosso, lambari, piava, piava três pintas, joaninha, todos em cardumes. Belíssimo!

Uma parte emocionante da flutuação é uma pequena corredeira no ponto de desembocadura do Rio Olho D’água no Rio da Prata. Percebemos rapidamente a mudança de ambiente: a temperatura da água diminuiu bastante, assim como a visibilidade. Isso não nos impediu de ver um cardume de dourados, com indivíduos bem grandes.

Flutuamos 2 km pelo rio Olho D’água e mais uns 300 metros pelo rio da Prata. Belo e inesquecível. Retornamos de caminhãozinho para a sede da fazenda, onde um delicioso almoço nos aguardava. Após o almoço, demos umas voltas pelos arredores da sede e vimos araras, periquitos-rei, maritacas, garças, seriemas, anús brancos e uma ema.

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Voltamos felizes. Férias perfeitas, com muita beleza, natureza e um atendimento impecável.

2 Responses

  1. Maristela Gomes disse:

    Vania não oderia ter sido melhor seu relato … Bonito é tudo isso mesmo , assim como vcs Tb voltamos renovados … Adoramos que vc tenha escrito sobre nosso encontro , Tb gostamos muito de conhecer vcs … Beijos beijos e qualquer dia desses iremos em Brasília .

    • Vania Gomes disse:

      Maris,
      Nosso encontro foi marcante e realmente sinto que seremos sempre amigos! Esperamos vocês em aqui Brasília!!
      Mil beijos e saudades.