Itamar e tá pior

“Estamos vivendo uma enorme crise de valores e isso é gravíssimo” — a frase é de Armínio Fraga, em entrevista concedida ao jornal O Estado de São Paulo no último domingo, 25 de janeiro. Ele afirmou o que eu e a torcida do Cruzeiro estamos percebendo já há algum tempo.

Essa crise de valores que observamos no âmbito político e, porque não dizer no próprio governo, nada mais é do que o reflexo da decadência dos valores da sociedade. Ou seria o contrário, tipo quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Essa pergunta, aliás, é bem mais fácil de responder, se a pessoa tem alguma noção da evolução das espécies. Compreender a involução da política nacional, por outro lado, é tarefa inglória.

Há alguns anos, eu estava em uma festa aqui em Brasília, na residência de conhecidos, e ficamos um tempão conversando com um senhor muito simpático.  Ele nos contou muitas histórias do Presidente Itamar Franco, enfatizando os feitos da equipe de Itamar no governo de Minas Gerais. Percebemos que talvez estivéssemos diante de uma figura importante, e, ao final do papo, antes dos parabéns, perguntamos seu nome.  O Simpatia.com respondeu: “Eu sou o Henrique. Henrique Hargreaves”. Tremi. Tinha uma lembrança de ver este nome envolvido em um caso de corrupção quando eu ainda era estudante mas, claro, não me lembrei direito na hora.

Chegando em casa, corremos para a internet e refrescamos a memória: Hargreaves foi denunciado na CPI dos Anões do Orçamento, quando era Ministro Chefe da Casa Civil de Itamar Franco. Com a denúncia, o próprio Hargreaves pediu demissão para não comprometer o presidente, que prontamente aceitou o pedido. Após as investigações, comprovou-se que Hargreaves fora acusado injustamente e Itamar o reconduziu ao cargo.

Vinte anos depois, com uma investigação em curso no cerne da principal estatal brasileira, envolvendo nomes fortes do governo, a presidente da Petrobrás, num ato de lucidez, coloca seu cargo à disposição. E o que a Presidente da República faz? Não aceita. Qual é, afinal, o problema dessa senhora? Segundo a lógica itamariana, toda a diretoria da Petrobrás sob suspeita deveria ter sido exonerada, com simples e ligeiras canetadas, tão logo começassem a aparecer as denúncias. Mas não. Aliás, tudo só não se manteve como antes, porque nossa competente Polícia Federal, em uma ação conjunta com o Ministério Público, conseguiu prender alguns ocupantes de cargos-chaves da empresa. Esses presos, tendo como exemplo o Marcos Valério do Mensalão (estão lembrados?), “inovaram”, e estão fazendo valer a delação premiada. Alguma dúvida de que só eles se dariam mal? Pelo menos, põem a boca no trombone, já que praticamente tudo está perdido para eles.

Diante de tantas acusações contra políticos da situação, pergunto, mais uma vez: o que faz a presidente? Some, desaparece, se escafede. Estratégia parecida com a de sua amiga Cristina, da Argentina que, aliás, teve que aparecer em função dos acontecimentos da semana passada. Mas apareceu igual a uma santa, toda de branco. Nossa presidente, por sua vez, apareceu de amarelo e… Cala-te, boca!

A minha boca, porque o jornalista Luís Nassif já traçou um paralelo da situação atual com os tempos de Collor, que proporcionou a chegada de Itamar Franco, Hargreaves e FHC ao poder. Não acredito que aconteça com a atual ocupante do cargo máximo da República o mesmo que se passou com Collor. Muitos dos atuais estudantes não têm mais os mesmos sonhos e a mesma fé que nós tínhamos e, para piorar, as organizações estudantis, ao que parece, estão muito bem acomodadas na situação. Mas, se acaso os novos-caras-pintadas resolverem sair às ruas, se o congresso impossibilitar ou dificultar a governabilidade, não sei se teremos muito a comemorar. Uma coisa é entrar o vice de Collor; outra é entrar o atual vice.

Como dizemos em Minas, Itamar e tá pior!