Eu, loba

HojeDSC02250 cumplo años, como se diz em español. Quarenta, para ser mais exata, a idade da loba, auuuuuuu! Credo, nem tenho vocação pra isso. Mas é um momento realmente marcante, quando entramos na casa dos “enta” e os sintomas da maturidade já começam a aparecer.

Dia desses, fui ao oftalmologista e o diagnóstico não poderia ser outro: princípio de presbiopia. A perspectiva é que nos próximos três anos meu braço encolha. Quem diria, logo eu, que sempre fui míope. Minha pele já não é mais a mesma. A cada ano tem sofrido horrores com a seca aqui do Planalto Central. Uma boa dermatologista faz toda a diferença, e é por isso que eu tenho cara de uns bons anos a menos, há quem diga. A gravidade, então, é implacável: atividade física pesada para fortalecer a musculatura é imprescindível, antes que “tudo” caia. A gengiva, por sua vez, já vai subindo. Fios brancos na cabeça ainda não apareceram, espero ter herdado uma característica de minha família: parte dela começa a embranquecer o cabelo depois dos 60, 65 anos. Se isso não acontecer, já sabem, vou ficar loira.

Mas essas coisas todas são apenas a casca. A maturidade pressupõe muito mais, e nessa de fazer um balanço do que foram esses quarenta anos é que vejo o quanto a vida tem sido generosa comigo. Naturalmente, não vivo e nunca vivi num mar de rosas. Ralei, e ainda ralo bastante. Nesse balanço de quarenta anos, algumas perguntas têm me acometido: a vida melhorou, ou simplesmente estou aceitando melhor minhas fraquezas e limitações? Eu queria uma vida diferente ou está bom assim? Será que estou acomodada demais? E se eu tivesse estudado Letras? Ou Medicina, como era o sonho de meu avô? E se eu tivesse filhos? Será que eu teria tempo para essas reflexões ou estaria à volta com mamadeiras, tarefas de casa ou qualquer outra ocupação que não fosse eu mesma? Será que sou egoísta? Perguntas assim vêm à minha cabeça a todo momento, e se eu realmente concentrasse meus pensamentos sobre cada uma, vários fios brancos já estariam visíveis.

Prefiro pensar em toda a sorte que tenho tido. E nesse ponto, não posso me queixar. Decidi ir pela primeira vez à Europa, sozinha, para um encontro comigo mesma. Sigo em peregrinação pelo Caminho de Santiago de Compostela, chego hoje à Catedral, depois de 160 km de caminhada, com tempo de sobra para refletir e pensar na minha vida até aqui, no que ainda posso melhorar, que não é pouco: tempo para ter inspiração, para superar algum limite e, quem sabe, voltar com uns quilinhos a menos. Tempo para ver de verdade o tamanho de minha pequenez e a grandiosidade da vida. Tempo para sentir saudade de meu amor, de minha família, de meus amigos e, talvez, até do meu trabalho.

Ainda me lembro de meu aniversário de 30 anos. Estava na praia com uma amiga, no Espírito Santo. Não tinha muita grana, mas dava pra passear um pouco. Li O nome da rosa inteirinho em uma semana de sossego e paz. Revi amigos. Desta vez, aos 40, tenho uma semana de sossego e paz, caminhando, porque a vida não para. Nem quero que ela pare agora, credo! E assim comemoro estes meus 40 anos, solitária feito uma loba, que vive com seu grupo, sua família, mas canta sozinha pra Lua.

Um bom fim de semana procês!

5 Responses

  1. Cristiane disse:

    Não diria que teve sorte. Todas as suas realizações foram por merecimento querida Vânia. Sempre admirando seu talento e me sentindo mais perto às sextas-feiras. Beijo.

  2. Maria Augusta Rolim disse:

    Linda reflexão! Facilidade de expressar que me encanta. Obrigada por essas pérolas. bj

    • Vania Gomes disse:

      Querida Profa. Maria Augusta!
      Obrigada por sua presença sempre amiga! Suas palavras me incentivam a prosseguir!!
      Mil beijos.

  3. Antes de tudo desejo mais uma vez felicitá-la por esse dia maravilhoso, em que completa quarenta anos.Belíssima data. Seu texto lindo me sensibilizou como sempre, mas hoje de modo especial.amiga. você continua linda e continuará seu caminho com esse carisma que conquista a todos e cada vez mais maravilhosa, simples, amiga, inteligente e muito competente. Isso sem falar na escritora versátil e talentosa que eu aplaudo de pé.
    Parabéns, xará, Aproveite seu passeio e volte para todos nós que esctamos cheios de saudade.
    beijos
    Vânia Moreira Diniz

    • Vania Gomes disse:

      Minha querida amiga,
      Suas palavras me emocionaram. Quem sou eu para ser aplaudida e de pé por uma escritora da sua envergadura? Saiba que aprendo muito com você, com as leituras de seus textos. Suas palavras me emocionam e me incentivam a prosseguir.
      Obrigada por tudo!
      Beijos.