TV or not TV?

isabelQuase não vejo televisão. Às vezes, assisto um pouco do noticiário do canal público, bem mais isento que os outros. Já fui superfã de TV, mas tenho tido a impressão de perder tempo se fico parada na frente de uma.

Cheguei a esse ponto a partir de um processo. Cansei dos canais pagos: programação repetida, filmes cortados e dublados, uma ou outra coisa realmente interessante. TV aberta é a treva, muito tempo ali deve até emburrecer, especialmente nos finais de semana, que é quando eu supostamente teria tempo.

Ocorre que gosto de filmes e seriados, e não fosse o tratamento dado a eles pelos canais pagos, e as mensalidades cada vez mais caras para o pouco uso, certamente ainda teria uma assinatura. Em vez disso, pago um canal de filmes e séries pela internet, que é baratíssimo e muito variado, e ainda dou acesso a toda a família, que pode acessar seu seriado predileto de onde estiver.

Mas o melhor foi que numa de minhas aulas de espanhol descobri um canal de TV da Espanha que deixa seus seriados na internet, para acesso livre. E foi assim que comecei a assistir “Isabel”. A Isabel em questão é a Católica, Isabel de Castela, como queiram chamá-la. O que importa é que o seriado é histórico e conta episódios cruciais da história da Espanha, incluindo algo que nos toca: o descobrimento da América.

Ocorre que o tal canal espanhol — RTVE — é público. E no Brasil, o que temos? De vez em quando aparecem aí uns seriados mais históricos, ou baseados em obras de nossa literatura, até de boa qualidade. Mas se eu não puder ver na TV no momento em que está passando, na melhor das hipóteses só alugando os DVDs com prazo para entrega. Em outras palavras: ou dou ibope ou compro. Como a RTVE é pública, não há entraves, nem necessidade de lucro, e eu, que estou do outro lado do Atlântico, posso assistir às produções espanholas, adquirir mais cultura e, de quebra, aumentar minha compreensão auditiva de espanhol gratuitamente.

O canal público brasileiro está longe, muito longe de ter um décimo da qualidade da RTVE. Para começar, são mais de 100 séries e documentários disponíveis no canal espanhol. Se eu quiser, posso assistir o noticiário ao vivo ou à programação regular, posso ver a previsão do tempo (ultimamente isso tem me interessado) ou um jogo de futebol. Já a TV pública de Pindorama ainda precisa evoluir bastante. Até estão disponíveis alguns vídeos da programação, como o ótimo “Sem censura” ou o “Samba na Gamboa”, mas a postagem não está atualizada. Meu seriado que passa na RTVE está na terceira temporada e com os capítulos atualizados na internet. Na nossa TV Brasil os seriados exibidos não contam com a produção de alto nível da RTVE para “Isabel”, por exemplo, e não são disponibilizados no site do canal. Ainda assim, é preciso reconhecer que a TV Brasil melhorou enormemente a qualidade de suas produções e de sua programação nos últimos 10 anos.

Há algum tempo, assisti no Canal Brasil ao documentário “Histórias do Brasil”, chamado pelo canal de “série”; para mim, é documentário. Mag-ní-fi-co! Foi feito em parceria com a Revista de História da Biblioteca Nacional e tinha miniaulas de historiadores, professores universitários explicando o fato histórico e o momento em que se deu, entremeado a encenações (estas um pouco canastronas). Os dez episódios têm vídeos disponíveis no site da EBC, vale a pena.

Isso nos leva à conclusão de que, feitas as parcerias certas, podemos ter um canal público excelente: temos material humano para isso (excelentes historiadores, produtores, diretores, atores e artistas). Além disso, é muito provável que haja alguma burocracia engessando o processo. Naturalmente, isso não parece prioritário para qualquer governo, mas penso que deveria estar incluído no pacote da Cultura e incentivos… Até porque poderia dar uma mãozinha para a educação.

Verdade seja dita, cultura nunca é prioridade (educação sempre é, mas cadê?). A TV, um meio barato e cômodo de entretenimento, poderia ter um papel mais relevante na divulgação da cultura nacional, incluindo história, literatura e música (a MPB anda meio sumida).

Quando acontece de se produzir para a TV uma obra literária, por exemplo, geralmente a série passa tarde da noite. É que, não sendo prioritária, não pode ocupar um horário mais “nobre” na grade de programação, e pode até ser um perigo. Afinal, informação é poder, e este, meus amigos, é para poucos, muito poucos, que o protegem com unhas, dentes e a velha (mas ainda eficiente) fórmula do pão e circo.

Um bom fim de semana procês!

2 Responses

  1. mariamar disse:

    Parabens,Vânia querida,por mais esta maravilhosa crónica.Não estou abalizada a comentar nada àcerca do problema “in” Brasil…mas por cá,o problema é o mesmo…emburrecemos,como bem dizes:política,e política e mais política.Futebol,futebol e só futebol.Novelas,brasileiras e portuguesas a ocupar os canais ao serão…E mais não digo!Sabes?agarro-me aos livros,amiga!Neste momento,estou lendo as nossas rainhas.o destes dias é “Maria II”.Ao menos vou relembrando História e aprendendo o que não sabia…TV?Não muito obrigada!rs Beijo grande e BFS
    mariamar

    • Vania Gomes disse:

      Minha doce Maria!
      Obrigada pelo carinho de sua presença!
      Os livros são nossa salvação, amiga! Os livros e os escritos de amigos inspirados e talentosos como você!!
      Bjãozão.