Breve reflexão sobre as eleições 2018

Breve reflexão sobre as eleições 2018Não entendem de povo. Foi a conclusão a que cheguei ao observar as análises e os resultados das eleições, em especial no primeiro turno. Analistas políticos e, principalmente, políticos, não entendem nada, nada de povo. É uma gente que vive em seu mundo particular, protegida em condomínios fechados, com porteiro 24 horas, que não anda de ônibus, nem vai ao mercado.   A rotina desses indivíduos se resume em maquinar estratégias para influenciar os leitores / seguidores. São incapazes de enxergar além, de ver a real diversidade do povo, porque não se misturam.

E quando falo da real diversidade do povo, me refiro desde o cidadão pobre ao cidadão de classe média, todos trabalhadores, cada qual com suas necessidades, rotinas, dificuldades, suas lutas diárias.

O povo está cansado da enrolação, da hipocrisia. Está cansado dos discursos prontos, das palavras de ordem, das filosofias e das belas teorias que não se provaram ou se provaram ineficazes. O povo está exausto de receber migalhas como se fossem grande coisa e, ao seu redor, ver a miséria aumentar. O povo não aguenta mais tanto blábláblá, e até o novato mimimi já encheu.

Quem fomentou o ódio na sociedade brasileira agora fala de amor, que ironia! A estratégia “paz e amor”, inaugurada nas eleições de 2002, se mostrou apenas interesseira. Rapidamente, foi substituída pelo “nós contra eles”, como se o Brasil fosse dividido em duas torcidas de times de futebol de várzea.

Portanto, o que a sociedade brasileira vive hoje, esse grau inédito de polarização, é resultado de 14 anos de petismo, época da mais forte manipulação do povo, como nunca antes na história deste país. Os programas sociais se reduziram a uma releitura dos votos de cabresto. Esse artifício funcionou durante algum tempo e ainda funciona nos rincões mais carentes, dependentes de migalhas e de palavras ludibriantes.

O Governo Temer, por mais que tente se desvincular do PT, não pode; são irmãos e entraram juntos na empreitada. Mas é o que tivemos que engolir ao longo dos dois últimos anos, em respeito ao processo democrático estabelecido constitucionalmente. Sejamos francos: se Temer não resolveu todos os problemas do Brasil — afinal, arrumar 14 anos de malfeitos em dois seria mesmo impossível —, pelo menos não piorou e logrou alguns sucessos. A inflação baixou, a recessão foi estancada, e o desemprego, ainda em nível alto, diminui aos poucos.

O candidato vencedor dessas eleições de 2018 é representativo da população brasileira e fala a língua do povo, para dizer o mínimo. O mimimi é conversa de pretensos intelectuais, amarrados às teorias e que não vivem, na prática, a realidade do desemprego, da miséria, da violência. O povo não aguenta mais eufemismos, está farto do politicamente correto. O eleito fala dos problemas “na lata” e, portanto, pressupõe-se que tenha conhecimento deles e que não está apenas teorizando.

Por exemplo, o Brasil é um país violentíssimo. Em 2002, último ano do governo FHC, o número de homicídios foi 49.695 (Agência Brasil). Segundo o IPEA, fechamos 2016 com 62.517 homicídios. A conclusão, um tanto óbvia, é que as políticas sociais dos governos petistas não funcionaram para reduzir a violência; ao contrário, parecem ter contribuído para aumentar uma situação que já era alarmante. Os mais pobres, que receberam apenas migalhas governamentais, são as principais vítimas da violência.  A verdade é que morreu mais gente assassinada no Brasil do que na Síria, país oficialmente em guerra. Tem algo muito, muito errado neste país.

O candidato vencedor das eleições é chamado de fascista em passeatas, nas redes e em ambientes sociais etc. E esse adjetivo foi estendido a seus eleitores, as mesmas pessoas que foram chamadas de golpistas quando do impeachment da Dilma. Durante as eleições foram e continuam sendo xingados também de ignorantes, manipulados, homofóbicos, racistas, tudo para desqualificar o pensamento, o voto e o cidadão, de forma frequentemente agressiva. E esperavam que cidadãos tratados dessa maneira mudassem seu voto?

Acusar os concidadãos de crimes horríveis e de grave falha moral só porque a escolha deles é diferente — e julgada pelo mainstream midiático como ruim —, e desqualificar tal escolha, inclusive com ameaças, é antidemocrático e intolerante, típico de mentes autoritárias.

O antipetismo, para quem não sabe, é uma tentativa de afastar do nosso país a corrupção, a hipocrisia, a mentira, o cinismo. O PT foi o cabeça, quiçá o autor, de um esquema de corrupção em escala transcontinental; não há como esquecer disso. Tendo sido eleito em 2002 justamente porque representava o contrário, o partido se mostrou pior do que o que tínhamos à época.

Ter o país comandado da cadeia tampouco é uma escolha admissível. Ainda que o candidato petista oficial seja professor universitário, não apresenta as credenciais mínimas para liderar o Brasil, dada a sua subserviência a um presidiário, julgado e condenado em todas as instâncias a que recorreu. Como fartamente demonstrado, títulos acadêmicos não são certificados de independência, autonomia, sinceridade ou honestidade.

O melhor dessas eleições foi ver o quanto as pesquisas são pouco representativas do real pensamento da população. Será que as amostragens estavam “contaminadas”? Um fenômeno que parece ter acontecido no último pleito é que o povo não foi influenciado pelas pesquisas eleitorais prévias, como vimos com o resultado do primeiro turno. A televisão perdeu muito de seu poder de influência, e as redes sociais — de relacionamento — libertaram os cidadãos para dizerem e votarem de acordo com o que pensam. Foram as eleições mais sinceras e, por que não dizer, menos manipuladas.

As redes sociais são um problema, de fato, para quem quer controlar o que se diz por aí. Os companheiros do PSOL até entraram com pedido na justiça para restringir o uso do WhatsApp no período eleitoral. Vejam só que coisa: aqueles que se dizem “democratas” querem limitar a liberdade de expressão em grupos pri-va-dos, fora do establishment. Já se escreveu sobre isso: George Orwell, 1984.

Digna de nota foi a atitude antidemocrática do candidato derrotado, que não telefonou para o vencedor e só publicou um tweet depois que a imprensa falou muito a respeito. Também é preciso apontar a hostilidade dos petistas nas redes sociais, em franco desrespeito à vontade da maioria — coisa espantosa, e que, pelo visto, não terminou com a conclusão do processo eleitoral.

Hoje temos um novo presidente eleito. Se não é o presidente dos sonhos de parte da população, é aquele desejado pela maioria, no processo democrático, nas urnas, no voto direto. Em termos de porcentagem, conquistou mais apoio popular do que a vencedora da última eleição presidencial, eleita com 51,6% dos votos contra 55,1% do atual escolhido. E o principal: finalmente, depois muito, muito tempo, teremos alternância de poder, a premissa essencial da democracia.

A partir do dia 1º de janeiro, teremos um novo presidente, de todos os brasileiros. Que ele seja capaz de designar uma equipe decente, com espírito democrático e que faça valer o lema de nossa bandeira: ordem e progresso.