Desenvolvimento: uma questão de tomada de decisão

 

Desenvolvimento_uma questão de tomada de decisãoEnquanto navegava sem destino certo pela internet, buscando alguma coisa sobre ciência e tecnologia, um dos meus interesses, descobri sem querer que a Estônia se destaca como um país líder em tecnologia. Alguém imaginava? Podemos até dizer que é um modelo interessante de como um país pode se transformar investindo em educação, ciência e tecnologia, a tríade que garante o desenvolvimento social e econômico. Por acaso alguém sabia que o Skype é um produto de uma startup estoniana?

A Estônia alcançou sua independência da Rússia em 1991, depois de 52 anos de ocupação. Terminou esse período como todos os países comunistas terminaram: sem uma economia minimamente razoável, com escassos recursos para investimento, um PIB per capita baixo. Com o fim do comunismo, a situação ficou caótica: a produção industrial diminuiu 30% e a inflação passava dos 1.000%. O país era completamente dependente da Rússia. Que lástima!

Em 1992, os estonianos começaram uma reforma drástica: primeiro, política; depois econômica. As reformas foram impopulares, mas seus resultados surtiram efeito. De acordo com o relatório “The Estonian economic miracle”, “as decisões certas feitas muito tarde geralmente continuam certas, mas os resultados, frequentemente não são bem-sucedidos”. A Estônia tomou as decisões certas no tempo adequado.

O relatório conta ainda que nos países em transição — caso da Estônia nos anos 1990 — era primordial combater a corrupção. “A corrupção prospera quando agentes públicos e agentes privados têm muito a ganhar e pouco a perder com subornos, que é precisamente o que ocorre nesses países. Regras instáveis ou sem transparência, regulamentação pesada e controles generalizados, dão um poder excepcional aos agentes públicos, muitas oportunidades de suborno e ampla margem de apropriação do bem público”. Nossa! Quando li isso achei que estavam falando do Brasil.

Bem, vou ter que parar de falar da Estônia. Quem quiser pode procurar na internet, que vai descobrir é um país com os melhores índices de leitura, matemática e ciências da Europa, atualmente. E o terceiro do mundo, perdendo apenas para Japão e Cingapura.

Muito mais fácil fazer o que precisa para o desenvolvimento num país pequeno, é verdade. Mas isso não serve de desculpa para o Brasil, que apesar das ditaduras, depois de 1822, nunca viveu sob o domínio de outra cultura, de outro país. Nunca precisou fazer uma transição drástica de modo de vida, com tudo dependente de outro território.  Nunca precisou começar praticamente do zero.

Os estonianos tomaram as rédeas de seu país e fizeram as reformas necessárias. A primeira delas foi a política, para dar legitimidade aos governantes para aplicarem as demais reformas. Portanto, não se trata exatamente de um milagre, mas de planejamento, visão de longo prazo e, quiçá o mais importante, honestidade.

O Brasil sabe que esse é o caminho, tanto que sempre se fala em reforma política. Mas, como a corrupção é algo entranhado, essa reforma nunca sai de verdade. O resultado está aí. Um ciclo vicioso, uma repetição das mesmas figuras nas cadeiras da Praça dos Três Poderes e da Esplanada dos Ministérios. Consequentemente, não apenas uma repetição, mas também o “aperfeiçoamento” das práticas e dos sistemas em prol da corrupção.

Para completar, um ingrediente essencial para que esse sistema nefasto funcione é a impunidade. É ele que garante que os agentes públicos tenham muito a ganhar e pouco ou nada a perder. No Brasil, a impunidade tem até advogados (ferozes) na mais alta corte da Justiça.

Sabem quando o Brasil vai ser como a Estônia? Nunca.

Estou cansada e desesperançada, me desculpem.