Mulher, negra, jovem e vereadora: executada

 

A quinta-feira começou triste e desolada: Marielle Franco, uma mulher negra, jovem (e linda) e vereadora do Rio de Janeiro foi executada. Denunciava abusos de policiais. O crime ocorreu justamente um dia depois da prisão de alguns mandachuvas da polícia. Corruptos.

A situação é tão desoladora que tenho medo de que a vereadora Marielle tenha sido a primeira de muitas vítimas de criminosos revoltados com a intervenção. Porque é óbvio que a bandidagem capitaneada pela elite política carioca não aceitaria a ação governamental.

É esse o país em que vivemos. Não é apenas a violência extrema — essa é a consequência de um sistema totalmente corrupto, que massacra a sociedade, em especial os mais pobres. O tráfico de drogas é apenas uma linha desse emaranhado. O nó mais difícil de desembolar talvez seja onde a intervenção esteja se metendo.

Políticos corruptos requerem polícia corrupta, por óbvias razões. Em entrevista ao periódico El País, o traficante Nem da Rocinha, preso há mais de seis anos, contou como entrou no tráfico e também como permaneceu, não pôde sair. A “participação” do poder público foi decisiva.

A entrada no tráfico se deu porque precisava pagar tratamentos para a filhinha bebê doente e, claro, o poder público não fez o seu papel. Quem “emprestaria” dinheiro a um rapaz desempregado? Nem passou anos pagando a dívida com “trabalho” para o antigo dono da Rocinha, o traficante Lulu. Quando este morreu, Nem viu sua chance de sair daquela vida. Planejava virar taxista, trabalhar honestamente. Mas a polícia não permitiu, porque o afastamento de Nem significaria perder vultosas propinas. A mãe de Nem foi ameaçada, e o presidiário pergunta ao El País: “O que você faria no meu lugar?”.

O Estado decidiu mexer no vespeiro do Rio de Janeiro. Esse primeiro assassinato (e, espero, o último) pode ser lido, inclusive, como uma declaração de guerra. Falta muito pouco para que se instale uma guerra civil pra valer na cidade maravilhosa. Quem vai sair perdendo feio, como sempre, serão os mais pobres.

O recado foi dado com o assassinato da vereadora. O governo parece ter entendido, tanto que se aventa acionar todas as forças possíveis, inclusive a Polícia Federal, para auxiliar nas investigações.

O traficante Nem acompanha as notícias por meio de revistas e jornais que seus parentes levam e dá o veredicto: a intervenção no Rio de Janeiro não vai adiantar nada. Para ele, só há uma solução: legalizar as drogas. Talvez isso quebre o ciclo vicioso da corrupção.

Por ora, o que podemos fazer? Sinceramente, acho que nem reza adianta mais.

 

Foto: reprodução