O batizado

O batizadoFérias sempre nos proporcionam novas experiências e histórias pra contar. Desta vez, pude até participar do batizado de uma priminha — como moro longe da família, foi uma ocasião especial. O evento rendeu algumas histórias, muitas risadas e, claro, a alegria de estar entre os meus. A cerimônia do batismo da Laurinha é digna de nota, ou crônica. Não é que o celebrante estava mais para animador de auditório do que para… padre?

Já assisti a alguns batizados, mas nunca estive num celebrado por uma figura tão despreparada. O padre, gorducho, deve se inspirar no Faustão para atuar em suas celebrações excessivamente informais. A missa — soube depois — durou quase duas horas, e o batizado de sete bebês levou uma hora e meia. Ainda bem que não fui à missa…

O padre falou um tanto no início, e com a acústica terrível da igreja, não consegui entender quase nada até meus ouvidos se acomodarem aos ecos. Lá pelas tantas, declarou que iria começar a cerimônia — e eu achando que o negócio já ia pela metade.

Uma das perguntas ritualísticas das cerimônias de sacramentos é se os fiéis prometem renunciar ao pecado. No caso do batizado, todos os pais responderam em uníssono: “Renunciamos”. Eis que o sacerdote quebra o protocolo e indaga aos pais:

— O que é pecado hoje?

PelamorrrdeDeus!! Hoje?? Pecado é pecado desde que Moisés recebeu as tábuas de pedra com os 10 mandamentos. É assim há mais de três mil anos, para judeus e cristãos, e continuará sendo por todos os séculos dos séculos, amém.

O que esse presbítero queria inventar? Qual o objetivo? Por que não fez uma homilia bem estruturada, capaz de tocar o coração dos fiéis, em vez de constranger aqueles pais na obrigatoriedade da resposta individual? É bom lembrar que alguns estavam bem incomodados, pois seus bebês choravam desesperadamente, após o suplício de horas dentro de um ambiente quente e barulhento.

Gostaria de saber quando foi que a Igreja Católica ficou desleixada com seus ritos, especialmente com alguns sacramentos. Será o desespero em manter fiéis? Sou uma fiel muito meia-boca, e celebrações assim me afastam, mas não são suficientes para me fazer mudar de religião.

Aliás, não entendo a debandada de católicos para igrejas protestantes. É muito mais fácil ser católico. Ok, ok, nunca fui outra coisa na vida, mas entre os cristãos, me parece a opção mais tranquila. Ninguém é cobrado por nada numa comunidade católica. Sempre que vou à igreja, sou recebida com sincera alegria. Não há obrigatoriedade em pagar dízimo ou qualquer outra quantia para o que quer que seja. A Igreja Católica, hoje, se mantém com doações espontâneas e com instituições de educação, museus etc. Nunca ouvi falar de padre rico.

Verdade seja dita, a Igreja Católica não é santa como deveria e se autoproclama: é cheia de pecados — peca contra a castidade e levanta falsos testemunhos, por exemplo —, é omissa e tem um passado pavoroso. Contudo, se aproxima do povo, ajuda a superar diversas mazelas e nada exige em troca. Todos os sacerdotes que conheço (não são poucos!) são sincera e verdadeiramente humildes, e trabalham pela comunidade.

Na contramão, os padres showman. O do batizado da Laurinha é um arremedo mal-ajambrado de padres famosos, midiáticos. Dá até saudade dos tempos áureos do Pe. Marcelo Rossi — “erguei as mãos e dai glória a Deus”, lembram-se?

Atualmente, o trem feio demais. Tem padre sertanejo trajando calça branca apertadíssima e cinto com fivelona, ui. Isso sem falar em padre-famoso-metrossexual. Ou outra coisa, melhor deixar pra lá. Sei não, mas corre-se o risco de ter padre funkeiro por aí, e ainda nem estamos sabendo.

Será que isso é sustentável? Acho que a Igreja Católica não fecha o barraco porque seus 2.000 anos de tradição seguram a onda legal.

O mais bonito do catolicismo, na minha modesta opinião, são seus rituais solenes, a capacidade que têm de nos fazer olhar para nós mesmos e de nos levar a reconhecer o quanto somos pequenos. A alegria da salvação se mescla à profundidade da reflexão pessoal e social em que nos inserimos. O próprio Jesus era um homem atento às mazelas sociais de seu tempo. Viveu assim até ser condenado à morte na cruz.

Atualmente, nós católicos, carregamos muitas cruzes. Os padres showman pouco ou nada ajudam nesse calvário. Talvez até atrapalhem, já que estão imbuídos em vaidades e futilidades. A “palavra de Deus” não passa de uma escada para a fama e o “sucesso”.

E minha priminha Laura, agora oficialmente uma católica apostólica romana, crescerá nesse ambiente. Que ela cresça se espelhando no próprio Jesus, e não nesses sacerdotes midiáticos.