É Natal, e o Ano Novo bate à porta

É-Natal-e-o-Ano-Novo-bate-à-porta-300x200 Pode-se dizer que é Natal, e o Ano Novo bate à porta. Traz consigo alguma esperança, ainda. Mas a verdade é que a coisa anda muindifiço, como falamos no mais fino e puro mineirês.

O otimista apelaria ao clichê e diria que as dificuldades nos fazem mais fortes. Será mesmo? Está dificílimo acabar com a corrupção e só vejo o país e seus cidadãos cada vez mais enfraquecidos.

O número de pedintes nas ruas neste Natal, pelo menos em Brasília, se multiplicou. Nos estacionamentos da cidade, nos sentimos ameaçados o ano todo pela criminalidade estampada na cara dos “guardadores” de carros, eficientes em nos cobrar o que alcunhei de taxa de extorsão. Ou será que é a miséria patente em seus corpos magros e trajes maltrapilhos que nos assusta? Ou ver alguém que tem nesse tipo de atividade um “trabalho”, que não passa de esmola?

A falta de emprego criou mais “alternativas”: os vendedores em semáforos. Tem até garçons vestidos a caráter, servindo água de coco — mediante pagamento, claro. O produto mais ofertado é aquela pipoca do saco rosa — sem gosto, mais parece um isopor — além de balas de goma.

Em Brasília, ninguém se senta num bar à noite sem que venha alguém vendendo panos de prato, geralmente uma criança, acreditem! Já não tenho mais onde por panos de prato em casa. Vou começar a fazer adornos de crochê em volta e dar para minhas amigas, assim ganho algum espaço em casa, provavelmente para ser ocupado por outros panos de prato que comprarei de uma criança nos bares da vida.

É difícil nos sentirmos bem ante a crueza dessa realidade. E tais “alternativas” apenas demonstram uma coisa: nosso povo não tem qualificação, nenhum preparo profissional. Se fossem qualificados, poderiam oferecer um serviço diferenciado, trabalharem como freelancers ou autônomos, dar aulas particulares, enfim, terem um trabalho e não algo tão incerto e desvalorizado.

Falando em incertezas, fiquei horrorizada com uma crônica que li há poucos dias, num jornalzinho virtual aqui de Brasília. O texto começava contando que duas irmãs vieram da Bahia à Capital Federal para tentar a vida como… prostitutas. O que me horrorizou, de fato, foi a maneira como o autor do texto escreveu, como se as moças tivessem vindo tentar a vida como empregadas domésticas ou professoras ou advogadas.

A prostituição é uma atividade que rende muita humilhação, violência, preconceito. Tanto o é que parte da crônica conta a saga das irmãs para alugar um imóvel para morar — dificuldades sem fim. Ao final, conseguiram alugar um apartamento por fora do sistema de imobiliárias — parece, sem contrato —, e estão felizes em oferecer um banquete de Natal para os amigos.

Não posso achar normal alguém optar por tentar a vida como prostituta — ao contrário do dito popular, a vida dessas trabalhadoras é muito mais difícil. Prostituir-se porque foi o que restou para a sobrevivência é uma coisa; ter como plano, propósito na vida ser prostituta é outra. Partiu meu coração ler esse texto, e a frieza das palavras que contaram o fato me fizeram pensar que a conjuntura do país, em todos os níveis, está podre. O autor do texto até me lembrou a filha do Papai Noel da crônica da Tatiana Rezende: tudo parece normal.

Enfim, é Natal e, apesar da alegria de reencontrar familiares e amigos neste fim de ano, sinto um aperto no peito ao lembrar das pessoas necessitadas, vítimas da podridão que colapsou o sistema. E pensar que tudo podia ser diferente se a corrupção não tivesse se institucionalizado.

Mesmo melancólica, desejo a todos um Feliz Natal, e que 2018 não seja tão difícil para nós.