Dilma Roussef: primeiro aniversário

   Há cerca de um ano, lamentávamos o impeachment de Dilma Roussef, ao mesmo tempo que reconhecíamos sua incontestável necessidade. Era como a amputação de um membro que, se não fosse feita, o corpo todo iria necrosar, e uma morte lenta e sofrida seria inevitável. Melhor cortar fora o membro necrosado.

O impeachment resolveu parte de nossos problemas, talvez o principal deles, que era dar um fim àquelas políticas desastrosas para o país. Mas a corrupção ainda assola o Brasil. De qualquer forma, podemos ver um Brasil bem menos polarizado, já que Temer não é o presidente dos sonhos de ninguém, e era, simplesmente, a única solução constitucional para a urgência de interromper o ciclo de destruição da nossa pátria, promovido pelos governos petistas.

Após um ano, Dilma caiu no esquecimento. De vez em quando aparece ao lado de Lula (desesperado para chamar a atenção para si), e aí lembramos que ela existe. O mimimi não mudou: continua posando de vítima de golpe. Sua nova vida, no entanto, parece bem melhor, pois viaja pelo mundo com o dinheiro do povo brasileiro, falando o que quer impunemente; e também se livrou da convivência com aqueles políticos que sempre odiou e tinha que suportar. Agora, convive com intelectuais e artistas apoiadores do PT, ou seja, passa os dias pregando para convertidos.

Para o partido, está ótimo assim, pois Dilma é confusa, e é a imagem da derrota. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, o presidente estadual do PT do Rio de Janeiro reconheceu que “uma arrogância desmedida tomou conta do centro de decisões” a partir do momento em que Dilma se sentou na cadeira presidencial. O partido não sabe o que fazer com o estorvo impedido. Deram-lhe a presidência do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo — um prêmio de consolação sem destaque algum, claro.

Aliás, o partido pouco ou nada aprendeu com o evento de um ano atrás. Não se vê como corresponsável por tudo o que aconteceu. Afinal, Dilma era o próprio PT governando, assim como foi Lula. As políticas erradas e fracassadas, aliadas à corrupção sistêmica e integrada capitaneada pelo partido, foram o estopim para a insatisfação geral e o reconhecimento de que, se alguma providência não fosse tomada a tempo, seríamos a próxima Venezuela. Junte-se a isso o tato nada apurado da senhora Rousseff, que contribuiu enormemente para a insatisfação dos colegas políticos, aquela gente que ela (e nós também) abomina. Convenhamos, ela própria cavou sua derrocada, que resultou no impedimento.

De lá para cá, a crise política não se resolveu. A todo momento, um terremoto de descobertas e péssimas notícias nos toma de assalto. Os pedidos de impeachment contra Michel Temer pipocam no Congresso, e estamos prestes a conhecer a segunda denúncia do Ministério Público. Temer se segura a todo custo, e, mesmo assim, está conseguindo fazer alguma coisa. Podemos apostar que se Dilma ainda governasse, nossos problemas teriam se agravado.

Para início de conversa, Dilma rezava pelo catecismo econômico de esquerda, o que resultou numa taxa de desemprego estrondosa. Que está diminuindo, mas ainda é grave. O Estado, certamente, estaria muito mais aparelhado, e os cargos comissionados continuariam se multiplicando. Temer eliminou entre 4 mil e 5 mil cargos — pouco, mas pelo menos diminuiu.

Outro feito de Michel Temer foi criar uma lei que regulamenta a convocação de dirigentes de estatais. Um ganho e tanto, porque, por exemplo, ficou proibido de dirigir estatais quem tenha vínculo com partido político. Em outras palavras, empresas públicas não podem ser aparelhadas. O aparelhamento foi determinante para a necrose na Eletrobrás, na Petrobras e em várias outras empresas públicas.

Os programas sociais foram mantidos e, mais do que isso, foram aperfeiçoados. Foi feita uma busca cuidadosa por irregularidades, o que proporcionou economia e melhor aplicação dos recursos. O Minha Casa Minha Vida foi até ampliado.

Por outro lado, o governo descontinuou programas como o Ciência sem Fronteiras. Da maneira como estava sendo conduzido, o CsF proporcionava uma experiência internacional grátis para jovens de classe alta e média, o que lhe rendeu a alcunha de “Turismo sem Fronteiras”, dada pelos próprios beneficiados. Contudo, um aperfeiçoamento desse programa poderia ter sido feito, de forma a restringi-lo a estudantes de doutorado em seletas áreas estratégicas. E aqui vemos um dos principais equívocos do governo Temer: a falta de apoio à área de Ciência e Tecnologia. Existe dinheiro apenas para projetos emergenciais, como foi o caso da Zika. São poucas as chamadas públicas para pesquisa e desenvolvimento, e as que existem têm parcos recursos.

Entretanto, convém lembrar que o governo Dilma endividou o orçamento destinado à Ciência brasileira: lançou editais milionários no final do primeiro mandato, para pagamento a posteriori. Tais projetos estão sendo pagos em doses homeopáticas. Pelo menos o governo federal está honrando a dívida com os pesquisadores — deve e não nega, paga quando pode.

Ainda há muito a ser feito, e parece que Temer não conseguirá lograr êxito em boa parte das promessas que fez. Ainda não aprovou a reforma da previdência; dificilmente conseguirá concluir as obras iniciadas; a redução do desemprego segue a passos de tartaruga e ainda é inexpressiva; será quase impossível retomar o crescimento a níveis maiores do que 1%, dentre outras missões impossíveis — herança maldita deixada por sua antecessora.

Dilma, realmente, foi um desastre para o Brasil.

Bom fim de semana procês.

Foto Evaristo SA/ AP / Getty Images.