Estancando a sangria

Nesta quinta-feira, fomos surpreendidos com uma matéria da revista Época, intitulada “PF acaba com grupo de trabalho da Lava-Jato em Curitiba”. Ao que consta, a ordem veio da Direção Geral, de Brasília, ou seja, de Leandro Daiello. Na prática, os delegados e demais policiais federais que se dedicavam exclusivamente à Lava-Jato vão integrar a Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor). Será que esse movimento vai mesmo “estancar a sangria”, como dizem os políticos com o telhado de vidro?

urp

 

Vamos nos lembrar de que Daiello está prestes a ser substituído, como o próprio ministro da Justiça já anunciou. Cabe ainda ressaltar que não houve troca do Superintendente do Paraná, o delegado Rosalvo Franco, que ocupa o cargo desde 2013. Talvez essa decisão tenha sido estratégica, face a um iminente e verdadeiro desmanche que pode estar em plena maquinação.

Como a corrupção no Brasil é sistêmica e integrada, é possível que seja mais eficiente integrar equipes de diferentes operações da PF — ou não tão diferentes assim. Tudo indica que as operações de combate à corrupção têm pelo menos alguma interface, já que os personagens dos vários enredos são praticamente os mesmos.

Ademais, não podemos desconsiderar o fator “mesmas pessoas o tempo inteiro fazendo a mesma coisa”. Em que pese o ótimo trabalho desempenhado até o momento, esta é a receita para viciar qualquer processo. A incorporação dos policiais que trabalham na Lava-Jato a uma delegacia específica para apurar crimes de corrupção pode beneficiar as investigações. Afinal, uma oxigenada no sistema tende a corrigir rotas e a aperfeiçoar processos.

Outro detalhe importante: é público e notório que a Operação Lava-Jato sofreu um significativo corte orçamentário e de pessoal. Integrar equipes pode ser também uma forma de fazer mais com menos.

Devemos ter claro que não é a Lava-Jato que vai mudar a cena e o enredo político do nosso país. A Lava-Jato simplesmente revela os bastidores da política nacional — expondo os detalhes de como funciona o binômio empresas-governo —, mas não tem o poder de (sozinha) alterar o comportamento de nossos políticos e muito menos o sistema, cujo funcionamento favorece a prática da corrupção. Adicionalmente, a impunidade ou a sensação de impunidade são verdadeiros incentivos à perpetuação da corrupção. Em outras palavras, não adianta o trabalho da PF e do MPF se os corruptos não são exemplarmente punidos, nem acabam na miséria depois de tudo o que fizeram.

Definitivamente, não é tarefa das mais fáceis inibir a corrupção; acabar com ela, então, parece impossível. Aliás, como soubemos detalhadamente pela Lava-Jato, a corrupção é um excelente meio de garantir grana às campanhas políticas, em flagrante abuso de poder econômico. Quanto mais dinheiro, maior o alcance da campanha, mais votos, o que assegura a eleição do corrupto e a manutenção de suas mãos imundas dentro dos cofres públicos. É um ciclo interminável, que só cessa quando o figurão se dá por satisfeito e resolve se aposentar, como fez o imortal José Sarney.

A sangria que precisa ser estancada urgentemente é a dos cofres públicos, assaltados pela corrupção; é a sangria desatada da proliferação de partidos políticos com o único intuito de dividir para governar; a sangria do compadrio; a sangria do poderzinho. O dia em que conseguirmos conter essa sanguinolência, poderemos sonhar com um Brasil melhor.

Bom fim de semana procês!

Foto “Rondônia ao vivo”.

Para ler mais de Vânia Gomes, clique aqui.

Para comprar o livro mais recente de Vânia Gomes, clique aqui.