O óleo de coco nunca me enganou

A matéria no jornal Folha de S. Paulo durante esta semana, desmistificando o óleo de coco, pegou muita gente de surpresa. Mas o óleo de coco nunca me enganou, nem outras modinhas alimentares que, na verdade, servem a interesses de terceiros.

O óleo de coco começou a aparecer em sites e programas de TV que pregam uma alimentação mais saudável. De início, achei estranho que um óleo de uma planta abundante no Brasil pudesse custar tão caro, e se tornar, de uma hora para outra, o grande curinga das dietas. Por que o óleo de coco seria assim tão melhor do que os usuais óleos de soja, canola ou girassol? O sucesso repentino me fez desconfiar, e concluir que algum grupo de interesse estaria por trás desta propaganda toda, talvez até para escoar sua produção excedente de coco.

Ao ver a aparência do óleo de coco, a primeira coisa que nos chama a atenção é que é sólido, como banha de porco. Isso significa que temos ali gordura saturada, capaz de influenciar nos níveis do colesterol ruim, mesmo sendo originário de uma planta. Apenas essa informação já seria suficiente para derrotar a modinha alimentar do momento.

A matéria do jornal traz argumentos de sociedades científicas ligadas ao tema, como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica e a Associação Brasileira de Nutrologia, que são categóricas em afirmar que não existem evidências científicas que associem o uso do óleo de coco ao emagrecimento.

Outra modinha perigosa é a dieta sem glúten. O glúten é uma proteína presente em alguns cereais, como trigo, aveia, cevada, centeio. Existe uma doença autoimune grave relacionada a essa proteína, a doença celíaca, que tem um componente genético, parte do diagnóstico sendo feita examinando-se marcadores específicos. Na presença do glúten, o organismo reage contra si próprio, resultando na inflamação na mucosa do intestino e na má absorção de nutrientes. Os principais sintomas são fortes cólicas e diarreia. Se não for tratada, a doença celíaca pode até levar à morte. Mas ocorre que apenas 1% da população mundial é celíaca. Então, por que tanta gente saudável corta o glúten da dieta? O glúten, afinal, traz benefícios à saúde: auxilia no controle da glicemia e dos triglicérides, além de melhorar a flora intestinal, entre outros. Conclusão: se você não é celíaco, não elimine o glúten de sua dieta.

A propaganda também é forte para o emagrecimento por meio de uma dieta sem lactose. A intolerância ao açúcar do leite tem uma prevalência maior na população: cerca de 70% é intolerante à lactose em algum grau. A dieta sem lactose, portanto, é recomendada àqueles que possuem altos níveis de intolerância, devido à ausência da enzima responsável pela digestão desse açúcar, a lactase. Por outro lado, deixar de ingerir leite e derivados sem necessidade médica pode resultar em deficiência de cálcio no organismo, que traz consequências como a osteoporose. Não existe qualquer comprovação científica de que dieta com restrição de lactose emagreça. Puro conto do vigário.

Até já cunharam o termo “terrorismo alimentar”, ante a obsessão e a neurose com relação à comida provocadas por informações erradas e distorcidas propagadas com eficiência pela internet. Verdadeiro fanatismo.

Numa época em que a informação chega facilmente às pessoas, vemos muito mais desinformação do que notícias realmente úteis. No caso dos modismos alimentares, é preciso ainda considerar o desconhecimento da maioria sobre nutrientes e nutrição, aliado à necessidade de exibir um comportamento mais “natural”, outra moda de nossos dias. Será que nossos avós considerariam como natural uma dieta sem pão, sem bolo, sem macarrão, assim, sem motivo de doença? Ou uma alimentação sem nada de leite? Ou passar dias a fio alimentando-se apenas de suco? O segredo (de polichinelo) é simples: equilíbrio.

Bom fim de semana procês!