Balanço de fim de ano

Penúltimo dia do ano, última sexta-feira. Quando os veículos de comunicação fazem uma ampla retrospectiva do período que finaliza, também sou levada a destacar alguns acontecimentos que me parecem importantes.

Pessoalmente, não posso me queixar deste ano. Lancei meu segundo livro, o primeiro de crônicas; estou estudando um bocado para me aperfeiçoar na escrita; e comecei o desafio incrível de trabalhar num projeto inovador no Brasil, o #crônicasdakbr. O que torna esse desafio um prazer é que faço duas coisas que amo: ler e escrever, e ainda conto com a parceria e orientação da minha editora, Noga Sklar. Perdi uns quilinhos extras, não todos, mas já é um começo. Viajei, passeei, conheci novos lugares, vivi pequenas aventuras. Reforcei laços de amizade e fiz novos amigos. Meus pais, meus irmãos, minha sobrinha, meu marido e minhas enteadas, enfim aqueles a quem mais amo, estão bem de saúde e seguros.

As Olimpíadas foram o momento mágico e feliz de 2016! O Rio de Janeiro estava mais lindo do que nunca, tudo funcionava de maneira que jamais vi tão perfeita e pontual no Brasil. Ganhamos o primeiro ouro olímpico no futebol; Thiago Braz voou para pegar seu ouro no salto com vara! Mostramos ao mundo nossa criatividade, nossa arte, a beleza e a diversidade de nossa gente, de nossa terra: os espetáculos de abertura e encerramento encheram os olhos do mundo. Admiramos e aprendemos tanto com os atletas olímpicos e paraolímpicos, que aqui vieram para nos mostrar que o esporte vai muito além do físico.

Coletivamente, seguimos aprendendo o esquema de “funcionamento” do Brasil. As revelações das delações premiadas nos mostram que o fundo do poço parece distante, e nos deixam em dúvida se realmente esse buraco tem fundo. Político totalmente honesto parece ser exceção no Brasil, e o sistema está desenhado para eleger e perpetuar no poder gente com um perfil “específico”, vocês entendem.

Minha reflexão pessoal sobre os feitos dos governos petistas pode se resumir à minha decepção com o partido, porque construíram uma aparente igualdade social e o fizeram sem a responsabilidade de manter emprego e renda para as famílias, apenas aumentando o crédito (e as dívidas) dos mais pobres, criando assim, uma ilusão inclusiva. Aquele episódio envolvendo o mensageiro Bessias, para mim, foi a gota d’água. Se eu tinha dúvidas quanto ao afastamento definitivo da então presidente, naquele momento elas se dissiparam, porque vi na tentativa de nomear Lula para um cargo com foro privilegiado, a instrumentalização do público em favor de interesses particulares. Foi de amargar.

O ano foi trágico, porque um impeachment por si é trágico. Estávamos entre a cruz e a caldeirinha: ou a saída da Dilma era imediata ou teríamos que esperar mais dois anos e meio para começar a consertar — duas opções ruins. Até 2018, o rombo seria ainda maior, então, melhor começar a consertar o quanto antes, ainda que liderados pelo… vice da Dilma.

Outro destaque são as doenças infecciosas que molestam ainda mais esse nosso povo já tão cheio de mazelas. As consequências neurológicas dos vírus zika e chicungunya causam desespero. Sabemos tão pouco sobre esses agentes patogênicos! Mas o pouco conhecimento que existe no mundo tem dedos, mãos e cérebros brasileiros, comandados pela Dra. Celina Turchi, da Fiocruz Pernambuco, além de inúmeros pesquisadores de universidades e de outros centros de pesquisa, que investigam a patogenicidade, as consequências neurológicas, o combate ao vetor, métodos diagnósticos e vacinas. O caminho é longo, mas iniciamos a jornada, ainda que premidos pela escassez de verbas.

No mundo, destaco a guerra, interminável, que obriga milhões de famílias a deixarem seus lares, desesperadamente, numa tentativa de viverem em paz em algum lugar. O terrorismo parece avançar, tendo como desculpa a própria guerra. Inocentes de todos os lados morrem em nome de quem sequer conhecem.

O processo eleitoral nos Estados Unidos foi uma lição de democracia, ao eleger um outsider da política, uma figura cheia de polêmicas, mas que falou diretamente ao seu povo. O establishment da mídia e dos artistas não foi eficaz: bem que eles tentaram, mas o eleitorado votou como quis, de acordo com seus valores e com sua consciência. O resultado inesperado disse ao mundo: “Surprise, folks! Em nosso país, mandamos nós, os cidadãos estadunidenses”.

Em 2017, temos mais 365 dias para viver e realizar; para aprender e compreender o mundo que nos cerca; para tentarmos ser pessoas melhores e fazer alguma coisa que mude o mundo, nem que seja em nossa vizinhança, em nossa cidade.

Que neste novo ano possamos ter a humildade de aceitar respeitosamente as ideias e opiniões diversas das nossas, mesmo aquelas diametralmente opostas. Que o ano vindouro renove a nossa esperança e a nossa disposição de trabalhar por um mundo melhor!

Feliz Ano Novo procês!