O Brasil mostra sua carranca

Fans cheer after Brazil defeated Mexico during a men's preliminary volleyball match at the 2016 Summer Olympics in Rio de Janeiro, Brazil, Sunday, Aug. 7, 2016. (AP Photo/Matt Rourke)

Rio de Janeiro, Brazil, Sunday, Aug. 7, 2016. (AP Photo/Matt Rourke)

Pagamos sem querer para ter as Olimpíadas pela primeira vez na América do Sul. Então, como já pagamos mesmo, vamos curtir e vibrar com o espetáculo que é o esporte. Isso, no entanto, não quer dizer que estamos impedidos de enxergar os problemas.

Após a deslumbrante abertura da 31ª edição dos Jogos Olímpicos, em que provamos ao mundo, e principalmente a nós mesmos, nossa capacidade e potencial criativo para fazer tudo direitinho, a realidade permanece batendo à porta. A abertura das Olimpíadas dependeu, em grande parte, da genialidade de artistas. Já as instalações para os jogos estão totalmente à mercê de comandos de políticos. Isso explica algumas das críticas que o Brasil tem recebido dos atletas e do COI.

Nem vamos comentar o problema das instalações da Vila Olímpica, com muitos apartamentos entregues inacabados. Isso já é problema antigo, e resolvido após as reclamações dos australianos.

Mas a piscina com água verde pode ser um problemaço para os esportes aquáticos. Que vergonha! Não trataram a água das competições! A coloração verde da água deve-se à proliferação de algas, o que ocorre mediante certas condições, especialmente disponibilidade de luz e alimento. E por alimento inclui-se matéria orgânica. Ao que parece, a água que abastece a piscina é proveniente de poço artesiano. Os atletas declararam que o evento inesperado não atrapalhou: não havia mal cheiro e nenhum atleta teve irritação nos olhos. Ufa! Agora é torcer para que ninguém apareça com micose até o final das competições.

É uma dificuldade comer e beber nos Parques Olímpicos e outras instalações. Nós já estamos, de certa forma, acostumados ao péssimo atendimento que nos é dispensado. Mas os gringos, não. Para se ter uma ideia, para comprar uma Coca Cola (o único refrigerante que é vendido) de R$ 10,00, no sábado, dia 6 de agosto, a fila do caixa durava cerca de 30 minutos. Além disso, faltavam avisos sobre o fluxo para comprar comida. E o sol cascando na cabeça!

Mas esses são problemas de fácil solução. Tanto que foram resolvidos rapidamente. O que não tem solução imediata e queima nosso filme enquanto povo são as vaias.

É um absurdo vaiar o Temer na abertura das Olimpíadas, assim como foi um absurdo vaiar a Dilma na abertura da Copa. É preciso respeitar o Chefe de Estado (mesmo discordando de suas políticas, mesmo sendo interino, mesmo sendo “presidenta”) como qualquer um de nós gostaria de ser respeitado. Ninguém é obrigado a aplaudir, mas vaiar é uma demonstração de desacato e de falta de educação.

Com os atletas é ainda pior, porque o esforço para que eles alcancem os índices necessários para disputar as Olimpíadas é descomunal. A vaia submete o atleta a uma humilhação desnecessária. Aos vaiadores, uma pergunta: algum de vocês é capaz de fazer um décimo do que esses atletas fazem? Não mesmo, duvido.

Fato é que nos ensinam a vaiar desde criancinhas, nos campeonatos da escola, nos jogos de futebol do bairro. Quem se lembra do Pedro de Lara como jurado do Show de Calouros do Sílvio Santos? Ele dava suas opiniões, votava contra algum calouro e levava vaias da plateia. Pedro de Lara era uma figura, a vaia fazia parte do teatro que o ator apresentava no programa, mas demonstra bem a reação do brasileiro comum: desagradou? Tome vaia!

E os insultos dirigidos aos atletas brasileiros que não conseguiram os resultados almejados? Joana Maranhão declarou que o Brasil é um país homofóbico, machista, racista e xenófobo. E é verdade. Ela é a vítima da vez, só porque mostrou seu posicionamento político e, para completar, não conseguiu índice para disputar as finais da natação em sua categoria.

Rafaela Santos, a única medalhista de ouro até o momento, sofreu demais nas Olimpíadas de Londres porque perdeu a chance de disputar uma medalha. Agora que conseguiu o ouro é a queridinha de todos, é a guerreira.

E o Neymar? Vários comentaristas descendo a lenha no craque porque ele não demonstrou sua genialidade durante o período integral das partidas que disputou. Foi a seleção desencantar em Salvador e enfiar quatro gols na Dinamarca que começaram os intermináveis elogios. Exceto o Galvão Bueno, que está injuriado porque o Neymar se recusou a dar entrevista para a Globo. Pelamorrrr!

O Brasil tem muita coisa bonita para mostrar, tem muita coisa boa a oferecer e, de maneira geral, podemos considerar que as Olimpíadas são um sucesso, principalmente porque está tudo dando certo, apesar das previsões contrárias. O tema da abertura, “Gambiarra”, foi felicíssimo! Afinal, é na base da gambiarra e do improviso que fazemos muitas coisas — até as Olimpíadas, vamos combinar.

Mas, infelizmente, as vaias também marcarão esta edição dos Jogos. Negativamente. É o Brasil mostrando sua carranca.

Bom fim de semana procês!

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1 Response

  1. 08/12/2016

    […] espelhado […]