Doença crônica

foto-sérgio-machadoFinalmente, tudo o que já sabíamos ou do que, pelo menos, desconfiávamos, veio à tona com a delação premiada de Sérgio Machado, que foi presidente da Transpetro por 11 anos. Portanto, desde o início dos governos petistas, até ser “pego” pela Lava-Jato.

Essa figura é daquelas que estão sempre orbitando o poder. Era dos quadros do PSDB, quando o partido era o inquilino do Palácio do Planalto. Ao perceber que o poder está sempre, de um jeito ou de outro, nas mãos do PMDB, se imiscuiu ali. Seu brilhante curriculum e sua vasta experiência em “captar recursos” o habilitaram a assumir a presidência da estatal.

Mas como ele é vira-folha mesmo, aliás, como a imensa maioria dos políticos desse nosso Brasil, sua ideologia é sempre levar vantagem. Ou, em determinadas circunstâncias, se dar menos mal. Por isso fez a delação premiada e ainda gravou seus comparsas com o intuito de produzir e negociar provas.

Com base nas gravações, o procurador-geral pediu a prisão dos caciques do Brasil, porque o PMDB é só o gabinete deles, vamos combinar. Sarney, Renan e Jucá reinam no país, mandam e desmandam. E esse pedido do procurador foi a gota d’água, colocou toda a Operação Lava-Jato na berlinda do Senado. Sedentos por vingança, querem o impeachment de Rodrigo Janot, que seria o primeiro passo para acabar de vez com a força-tarefa —+ o objetivo último, conforme revelado nas conversas que o delator gravou. Interessados não faltam, tanto entre aliados, como entre inimigos, pois todos têm os rabos bem presos sob os telhados de vidro em que se abrigam.

Os acontecimentos desta semana desvelaram um pouco mais o esquema político nacional. Sim, aqui no Brasil política é uma organização com fins lucrativos, sobretudo pessoais. São raros aqueles políticos realmente idealistas e que não pensam em se beneficiar do esquema. A democracia e o sufrágio brasileiros foram instrumentalizados para atender a interesses pessoais e empresariais, e o dinheiro de impostos rola solto em detrimento de obras que façam a diferença para a população. O exemplo mais recente é a ciclovia que desabou no Rio de Janeiro, a poucos meses dos Jogos Olímpicos.

Falando em Jogos Olímpicos, enquanto se gastam rios de dinheiro com a Vila Olímpica, obras vitais como as de saneamento básico foram, novamente, deixadas de lado. A falta de saneamento é a principal responsável pela proliferação de diversas epidemias que assolam o país. É a falta de saneamento básico, por exemplo, que influencia na proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor de três terríveis doenças, especialmente a zika, que traz consequências devastadoras para as famílias e a sociedade.

Receberemos milhares de atletas e milhões de turistas que virão para as Olimpíadas num momento em que o Brasil é uma desgraça só, em todas as esferas: política, econômica e social. Ao se conhecer um pouco mais o esquema da política brasileira, é muito fácil concluir que a ideia de trazer ao país dois eventos mundiais como a Copa e as Olimpíadas só pode ter sido arquitetada para facilitar e aumentar os lucros dos envolvidos no esquema. O problema é crônico, porque nosso país ainda carece de infraestrutura. Ao que tudo indica, onde há obra, há corrupção.

Exemplo disso é o ocorrido no município de Barra Funda (RJ). A população esperou duas décadas para que a prefeitura construísse uma ponte de 24 metros (vinte e quatro metros!!!) para ligar dois bairros. A prefeitura havia orçado a obra em R$270 mil e, ante o cenário de crise, era impossível investir numa ponte para ligar duas comunidades pobres, claro. Os moradores, cansados, fizeram um mutirão: com cem pessoas envolvidas, um mês de construção e R$5 mil reais, a ponte está pronta. Uma obra que prova o valor da iniciativa popular, um exemplo de fato, do quanto nossos impostos podem ser reduzidos.  Por que a obra da prefeitura custaria R$265 mil a mais? A resposta não é difícil de imaginar.

E assim o Brasil anda: um passo à frente e dez atrás. O custo da corrupção crônica é o atraso no desenvolvimento, a população doente, deseducada, faminta. Enquanto isso, celebramos nossa democracia, que sobrevive aos trancos e barrancos, a reboque de esquemas e organizações políticas criminosas. Até quando?

Bom fim de semana procês!