Eu sou você amanhã

singles111A situação da Venezuela é consternadora. Falta tudo do básico: água potável, comida, remédios, energia. E, claro, bom senso do governo.

Agora, os funcionários públicos venezuelanos trabalharão apenas às segundas e terças-feiras, com o objetivo de economizar energia. Só não serão interrompidos os serviços essenciais.

São filas gigantescas para conseguir comprar o mínimo necessário para o sustento do corpo. O salário mínimo não é suficiente, já que os tempos são de hiperinflação, com previsão de chegar a 720% em 2016, a maior do mundo. É triste demais ver as fotos da escassez de comida nas casas de famílias com, pelo menos, quatro pessoas, incluindo crianças. A ingestão de proteína tornou-se rara: na maioria das dispensas são encontrados farinha, arroz, macarrão, alguns vegetais. Poucas casas conseguem ter um modestíssimo pedaço de carne.

A Venezuela foi muito elogiada há alguns anos pelos programas de inclusão social implementados pelo finado Hugo Chávez. Hoje, vemos o resultado: tais programas incluíram a classe média entre os pobres e os pobres, ao que parece, foram incluídos entre os miseráveis. Enquanto isso, Nicolás Maduro exibe fartas bochechas e uma pança de respeito.

Seus argumentos já ganharam a alcunha de “realismo fantástico venezuelano”: quando pesadas nuvens se aproximaram de Caracas, Maduro afirmou que haviam sido enviadas pelo seu deus e líder supremo, Chávez. Culpou o uso de máquinas de lavar, de ferros elétricos e de secadores de cabelo pela crise energética. E recomendou que os apartamentos tenham uma área reservada para criar três galinhas, além de barris para criar peixes. Inusitado, mas é verdade.

Impossível não associar o que ocorre com a Venezuela com um provável futuro brasileiro se não fizermos algo urgentemente. O problema não é, nem nunca foi a implementação de programas sociais, mas sim uma política econômica e social inadequada, sem metas factíveis e sem previsões futuras, que não aquelas que garantam a permanência no poder.  Medidas populistas permitem algum retorno imediato. A médio e longo prazos, no entanto, mostram-se desastrosas para a população. Eis a Venezuela. Dá medo.

O Brasil, com os programas sociais importantes das últimas décadas, avançou em três dos quatro indicadores que medem o índice de desenvolvimento humano, o IDH. O quarto indicador, que é a renda nacional bruta per capita, caiu, como todos sabemos. Isso puxou o IDH brasileiro para baixo, na última medição. Não é difícil concluir que a queda constante da renda per capita poderá influenciar, a longo prazo, os outros indicadores, principalmente a média de anos de estudo: a necessidade de trabalhar poderá fazer com que muita gente os interrompa.

Outra semelhança que temos com a Venezuela é a linha ideológica governamental. A diferença é que o “messias” daqui ainda está vivo e, como nossa constituição não foi escrita por um parlamento petista, as instituições são independentes para trabalhar de acordo com o que estabelece a Carta Magna. Isso significa que estamos em pleno processo de desconstrução do mito-messias-petista, e que dificilmente cairemos em desgraça maior. O Brasil que o próximo presidente herdará, contudo, será um tremendo problema e não parece possível solucioná-lo em pouco tempo. O fundamental é não nos esquecermos quem ou qual grupo foi responsável pela crise, que traz com ela o desemprego, a queda de renda e a consequente perda na qualidade de vida.

Na Venezuela, a oposição, que tem maioria no parlamento, já possui assinaturas suficientes para um referendo, que iniciará o processo de cassação do mandato de Nicolás Maduro. No Brasil, a presidente insiste em chamar o processo de impeachment de golpe. Mas o processo não apenas está sendo apurado institucionalmente, como também tem sido acompanhado e aprovado pelo STF — como pode ser golpe? É mais uma mentira repetida à exaustão.

Ao que tudo indica, os chavistas e os petistas estão com os dias contados. Viva o povo venezuelano! Viva o povo brasileiro!

Bom fim de semana procês!