Liberdade, igualdade e fraternidade?

muroO “muro da discórdia”, como tenho chamado, está gerando discussões acaloradas em Brasília. Depois que a Esplanada dos Ministérios foi dividida ao meio, a população da cidade está inconformada, quase revoltada com essa divisória.

Um dos orgulhos da nossa capital é justamente a Esplanada, porque ela também simboliza a democracia. Ela foi idealizada com o objetivo de ser ocupada pelo povo e assim vem sendo feito.

A liberdade que sentimos quando caminhamos pela Esplanada dos Ministérios é indescritível. Talvez pela grandeza, pelo espaço enorme ao nosso redor, pode ser que nos sintamos pequenos e, ao mesmo tempo, que podemos tudo: pular, dançar, correr, ou apenas sentir o vento na face, simplesmente sair correndo atrás de uma sombra nos dias de sol inclemente. Ao fundo, o lindo prédio do Congresso Nacional, a Casa do Povo, sem imponência, sem colunas arrogantes. Enfim, o sentimento que emana da Esplanada é algo que, penso, todo brasileiro deveria experimentar.

E agora, um dos símbolos da democracia nacional sonhada por JK, Niemeyer e Lúcio Costa foi bruscamente emparedado. A liberdade parece ter sido obstruída, interrompida. Que triste!

Mas a tristeza ainda é maior ao percebermos o significado desse “muro”: o Brasil está dividido. E essa divisão parece ter nuances violentas que justificam sua implantação. “A que ponto chegamos” é a frase mais falada por aqui, e foi até pichada no muro. Pois é, a que ponto chegamos…

O discurso de ódio parece ter surtido algum efeito, que se materializou na divisória da Esplanada dos Ministérios. Ainda que muitos parlamentares lancem mão desse discurso, ele foi inflamado e jogado às massas sabemos muito bem por quem. Essa coisa de “ricos x pobres” é de doer. Proclamar que a elite está incomodada porque agora pobre frequenta faculdade e anda de avião é julgar a sociedade por algo que sequer faz sentido lógico. Pergunto: quem quer pobreza? Quem quer ver a paisagem de nossas cidades marcadas por esgoto a céu aberto, crianças desnutridas e gente analfabeta, desdentada, suja e passando fome? Quem quer isso?

Qualquer pessoa razoável almeja uma sociedade mais igualitária.

A igualdade, no entanto, é um valor difícil, que leva tempo para ser alcançado. O início de tudo, penso, está no acesso à educação de qualidade. Uma massa de gente bem formada resulta numa sociedade mais igualitária. Se a educação pública é ruim, então, os governos são os primeiros a violarem o princípio da igualdade. Se fosse boa, os filhos e netos de políticos e governantes estudariam nas mesmas escolas que a maioria, as públicas. Isso indica que a divisão da sociedade (e, portanto, a desigualdade) começa ainda na infância, e é patrocinada pelos governos, que cortam recursos preciosos que deveriam ser investidos no capital humano.

A igualdade não pressupõe uniformidade. As pessoas são distintas e, consequentemente, pensam diferente, agem diferentemente e vivem da maneira que gostam. A igualdade, portanto, presume a liberdade de escolha de vida e não a necessidade de viver como der, com o que é possível, como vivem muitas famílias no Brasil.

A igualdade aceita argumentos diversos sem rotular as pessoas, sem ofendê-las ou partir para as vias de fato. Sendo um cidadão igual ao outro, qualquer um deveria sentir-se livre para expressar aquilo que pensa em qualquer ambiente, com qualquer companhia.

O “muro da discórdia” foi colocado para separar dois grupos com pensamentos diametralmente opostos. Com ele, foi cerceada a possibilidade de debate popular no momento das manifestações. Com ele, está acentuada a uniformidade de pensamento, a impossibilidade de expor ideias em qualquer ambiente, para qualquer pessoa, e ser respeitado por isso.  Esse muro reforça o discurso de ódio e divide nosso Brasil.

O muro na Esplanada é consequência de um governo que não governa para todos os brasileiros, mas apenas para aqueles que têm a mesma “ideologia”, enquanto os que não pensam da mesma forma são rotulados e julgados como a “elite incomodada com os pobres que estudam e andam de avião”. Nada mais errado, nada mais falacioso, nada mais odioso. Até porque a elite — ou seja, as empreiteiras, os bancos, o grande capital do agronegócio, as montadoras — apoiou e foi a maior beneficiária do lulopetismo. Os pobres permanecem pobres; já a elite enriqueceu ainda mais e deu as cartas nos governos do PT.

Se o governo governasse para todos não haveria uma divisão tão absurda. A sequência de erros e a propagação de mentiras como se verdades fossem, ao longo de treze anos, culminou na instalação do “muro da discórdia” no espaço que é de todo o povo brasileiro.

As consequências dessa maneira de governar todos sofremos. Afinal, todos somos vítimas da crise política, da crise econômica, do desemprego, da violência. O lulopetismo conseguiu um feito inédito: cerceou a liberdade, aumentou a desigualdade e extinguiu a fraternidade.

Bom fim de semana procês!