O modus operandi e a ruptura

temerNem cinco minutos, mas parece que foram apenas três: foi este o tempo necessário para que o PMDB caísse fora do governo oficialmente, porque na prática o que ele tinha se resumia a cargos.

Não foi por falta de aviso.

A carta de Michel Temer para Dilma no final do ano passado foi uma clara sinalização de uma possível ruptura. Nela, Temer diz com todas as letras que o PMDB não era chamado a contribuir para as grandes questões do país e que o partido não passava de um subsidiário. O desabafo de Temer mostra o quão desprezado ele se sentia por Dilma. Pior política a se fazer, considerando o poder do PMDB.

No reinício de nossa história democrática após 20 anos de ditadura, o PMDB foi um protagonista e tanto, sob a liderança de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, agregando ainda alguns oportunistas de última hora, como o imortal José Sarney. Depois, quando Fernando Collor foi eleito presidente, lá estava Itamar Franco de vice, assumindo a presidência pelo PMDB após o impeachment. Itamar foi o grande responsável pela escolha da equipe econômica chefiada pelo Fernando Henrique Cardoso, que trabalhou duro para colocar o Brasil numa situação confortável. Enfim, nos momentos cruciais, lá estava o PMDB e sua inestimável contribuição.

Segundo expôs Michel Temer na dita carta, a expertise do PMDB foi solenemente dispensada. Dilma chegou a fazer-lhe um afago, convidando-o para a articulação política, mas foi só. O PMDB tinha a vice-presidência, mas nunca teve acesso ao poder. E por poder, entenda-se decisão. Entenda-se responsabilizar-se por ações que trarão vantagem política futura, como foi o caso do Plano Real de Fernando Henrique e do Fome Zero e programas sociais do Lula. Ambos políticos surfaram no sucesso de suas ações. Temer, ao que tudo indica, queria e ainda quer exatamente isso: fazer algo impactante que traga ganhos políticos, ou seja, votos para si. Nenhum problema nisso, mas é preciso realizar, e sem espaço e sem poder, é simplesmente impossível.

Parece que Lula ainda tentou, na última hora, apelar ao Temer para que o PMDB se mantivesse na base aliada. Tarde demais. Lula achou mesmo que Michel e seus comandados mudariam de ideia? Ora, se Dilma já não governa há um bom tempo, o esperado era que passasse o bastão ao vice, mas ela teve inúmeros motivos para chamar o Lula. Para Temer, foi mais uma demonstração de desprezo por ele próprio e pelo PMDB. Talvez a gota d’água.

Portanto, não são apenas cinco ou três minutos, mas cinco anos de total desconsideração.

Não se trata de defender o PMDB, por favor. Mas é preciso reconhecer que essa ruptura oficial é fruto do modus operandi petista: as decisões são tomadas pela cúpula do partido e depois é preciso que sejam devidamente endossadas. Lula tinha a seu favor a situação econômica do país em equilíbrio e um vice-presidente velho, doente e empresário. Já Dilma começou seu primeiro mandato com o país à beira da falência e um vice-presidente que, mesmo não sendo jovem, está saudável, é um político profissional com enorme influência e trânsito no meio e tem sonhos e aspirações para sua carreira. Não aceita ser mero acessório decorativo e apenas endossar os (mal)feitos.

Em meio ao caos político, os oportunistas peemedebistas que ganharam cargos no primeiro escalão não querem largar o osso, apenas um entregou o cargo. Antes de serem ministros, à exceção de Kátia Abreu, quem eram esses políticos? Com um lugar no ministério, começaram a ficar conhecidos, não querem voltar a ser os apagadinhos de antes. Mas será que o governo ainda os quer?

Enquanto Renan Calheiros se equilibra em cima do muro, Temer, apesar de seu posicionamento bem definido, não renunciou ao seu posto de vice-presidente, lógico. Caso se confirme o iminente impeachment, ele será o próximo presidente. É só o que ele deseja. Acompanhemos os próximos capítulos (que já estão cheirando a pizza).

Bom fim de semana procês!

publicado também aqui