A crise na cena internacional

estrela-pt-palacio-alvoradaÉ natural que uma tormenta político-econômica afetando um país da envergadura do Brasil chame a atenção do mundo, em especial de nossos vizinhos latino-americanos. O fato de sermos uma população de 200 milhões nos converte em líderes regionais.

Prova disso foi uma mensagem que recebi esta semana, de uma conhecida uruguaia. A mensagem me fez chorar:

Querido M., querida Vania, 

Como están? Siento la necesidad de decirles que pienso mucho en Uds, queridos amigos, hermanos de Brasil. Con mucho dolor, con angustia, día a día vamos siguiendo las noticias, tratando de saber cual es la verdad, la realidad, y deseando de todo corazón que este momento tan difícil para Brasil, y para todos los latinoamericanos, se resuelva de la mejor manera!

Un abrazo muy muy fuerte, con todo el afecto,

M.

 

Foi uma linda demonstração de solidariedade. Mas, para o Uruguai, os acontecimentos que podem culminar com um encurtamento do atual mandato presidencial são uma preocupação legítima: a economia do vizinho depende, em certa medida, da economia e estabilidade do Brasil.

Respondi à minha amiga para não se preocupar, pois em 30 anos de redemocratização, foram diversos os momentos difíceis e nossa democracia não esmoreceu. Disse-lhe que o que vejo agora é a nossa Constituição e as instituições nacionais em pleno funcionamento, e que isso só pode ser bom. Temos que expurgar nossos demônios, e a corrupção, que não é algo novo, é o pior deles. O processo é difícil, mas confio em nossa Justiça e estou certa de que tudo se resolverá da melhor maneira.

Minha resposta, claro, foi o meu olhar pessoal, de cidadã brasileira que está vivenciando o momento. A imprensa internacional noticia quais os fatos e o que os atores envolvidos dizem. Portanto, as palavras “crise”, “impeachment” e “golpe” aparecem com frequência nos portais de notícias ao redor do mundo, principalmente depois que a “vítima” convidou os correspondentes internacionais para uma coletiva no Palácio do Planalto.

Oficialmente, os governos e governantes se pronunciam. Merece destaque a atitude do presidente do Uruguai, que atualmente é o país responsável pelas Presidências Pró-tempore do MERCOSUL e da UNASUL. No âmbito da UNASUL, ele tentou fazer uma espécie de moção em favor do governo brasileiro. O Paraguai foi contra, argumentando que não cabe à UNASUL uma ingerência em questões internas do Brasil. Tapa de luva de pelica: o governo brasileiro, comandado por Dilma, não titubeou em condenar o processo de impeachment de Fernando Lugo, em 2012, articulando a suspensão do Paraguai do MERCOSUL, o que viabilizou a entrada da Venezuela.

Falando em suspensão, chegou-se a mencionar que o Brasil poderia ser suspenso do bloco do Cone Sul, caso Dilma seja impedida. Não acredito que isso ocorrerá, mesmo em crise somos a força motriz do MERCOSUL. Uma pena, seria a oportunidade de sairmos desse bloco político-econômico, verdadeiro entrave em nossas relações internacionais com outros países.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, ameaçou invadir o Brasil, conclamando as forças armadas. Nicolás Maduro, da Venezuela, brada que o governo de Rousseff é vítima de um “golpe de estado midiático e judicial”. A Argentina demonstra preocupação, mas está de olho na brecha pela liderança da região, ainda mais depois da visita do Presidente Barack Obama às terras portenhas. Já os Estados Unidos, ao que parece, estão se limitando a acompanhar. Para eles, a América Latina não é prioridade.

A cereja no bolo da repercussão internacional da crise foi o editorial da famosa revista The Economist. O texto sugere a renúncia de Dilma como a melhor solução para ela, mas faz a ressalva que isso pouco resolveria a situação do país, já que o vice parece estar envolvido no escândalo de corrupção da Petrobras. O editorial ainda critica a nomeação de Lula como ministro da Casa Civil, afirmando que ao fazê-lo, a presidente “colocou os limitados interesses de sua tribo política acima do Estado de Direito”.

Ora, isso nós estamos vendo desde que o PT assumiu o governo, ainda em 2003, quando, na primeira semana da família Lula da Silva na residência oficial, foi colocada uma estrela vermelha no jardim do Palácio da Alvorada. Para mim, este fato icônico deu a tônica: os governos PT atendem a interesses do partido, e não do Brasil. E tais interesses, ao que tudo indica, se resumem à sua perpetuação no poder.

Nos últimos dias, testemunhamos que os discursos de Dilma no Planalto contam com uma plateia escolhida a dedo, e seu conteúdo tem apresentado palavras de ordem da militância. Isso me entristece e me envergonha: nossa presidente não governa para todos os brasileiros, sequer discursa para o povo, apenas para sua tribo, como militante. Não tem postura de presidente.

O amplo editorial do The Economist oferece uma reflexão mais equilibrada a nossos vizinhos latino-americanos. Espero que eles possam compreender a real gravidade da situação: ostentamos um fantoche partidário como mandatária do país.

Bom fim de semana procês!