Lesa-pátria

lavajatoEstou triste. Realmente, me entristece muito toda essa crise que estamos vivendo, apesar da satisfação de ver nossa justiça e nossas instituições democráticas funcionando a todo vapor.

Dilma desgoverna. Não tem capacidade sequer para nomear um Ministro da Justiça dentro das regras constitucionais. E que ministro é esse, que desconhece ou despreza solenemente a Carta Magna? Ou ele já deveria ter se desligado completamente do Ministério Público ou recusado o cargo de Ministro da Justiça. Mas não, ele quer tudo.

A prova mais recente da incapacidade de governar da presidente, e esta é bastante contundente, é sua pretensão de nomear Lula para compor o ministério, no comando da Casa Civil, ou seja, praticamente governando. Supondo que ele aceite, ficam claras duas coisas. Pela primeira vez, teremos uma presidente completa e confessadamente fantoche; e, em segundo lugar, será admissão tácita de culpa por parte do Lula. Ainda que se prove que ele é e foi honesto durante sua gestão (o que parece difícil), aceitar ser ministro de Dilma por sugestão de deputados petistas faz parecer que ele é culpado e, mais do que isso, que a cúpula do partido sabe de tudo e busca alternativas para não ver seu cacique atrás das grades. Pelo menos não tão rápido, e assim ganhar tempo para “manipular” a instância de julgamento. Só que se o mandato de Dilma acabar mais cedo, ele voltará ao status de cidadão comum (e ela também).

O Palácio do Planalto está empenhado em blindar Lula. Deveria, sim, estar dedicado a governar todo o Brasil, a colocar o país para funcionar bem para todos nós, brasileiros. A Presidência da República deveria estar trabalhando arduamente para que a economia do país se recupere, para que os cidadãos estejam todos empregados, para que as escolas públicas tenham qualidade, para que a zika não seja todo esse problema que é. Mas não, o Planalto trabalha para Lula, para o PT, instrumentalizando a máquina pública em favorecimento próprio. Isso deveria ser crime de lesa-pátria!  Nós, povão, ficamos a ver navios, assistindo de camarote à ruína da qualidade de vida de um país inteiro, sem conseguir fazer muito para mudar esse quadro.

Com tudo isso na pauta, fica fácil entender a decisão do Ministério Público de São Paulo ao pedir a prisão preventiva de Lula. Foi uma reação quase instantânea ao artifício de nomeá-lo ministro. Para que serve a prisão preventiva? Entre outros, para prevenir qualquer espécie de fuga, que neste caso, seria fazer do suspeito um Ministro de Estado, o que o livraria de responder em juízo, como faria qualquer outro cidadão.

É por essas e outras que muita gente passou a considerar o encerramento do governo Dilma antes do término do mandato. O mercado financeiro sinaliza que a simples presença deste governo derruba nossa economia: a cada ação de combate à corrupção petista, a bolsa sobe e o dólar cai.

Imaginem se dessa Operação Lava-Jato derivarem outras operações capazes de limpar o Brasil da corrupção, inclusive penalizando os corruptos de governos anteriores? É um sonho e até parece possível. De qualquer forma, estamos vivendo um momento único. A Lava-Jato é o primeiro passo; no Mensalão, ainda engatinhávamos, agora, sim, começamos a andar.

Se só com isso nossa economia já dá sinais de melhora, imaginem se formos governados por gente honesta. O brasileiro médio é trabalhador, produtivo, criativo. Não fica à mercê de mimos para conseguir seus próprios bens. Não é pecado ter um triplex, não é errado ter um sítio, não há problema algum em reformar seus imóveis, desde que não venham de favores, desde que tudo seja feito com seu próprio dinheiro, fruto de trabalho honesto. “Amigo” não existe para quem tem cargos públicos, o que existe se chama troca de favores. Como é que ninguém que eu conheça se oferece para reformar a casa dos amigos? Nem irmão faz isso, quando muito pais fazem para filhos e vice-versa, mas aí não é amizade, é amor paterno ou filial.

Seguirei triste por isso, pelo Brasil inteiro, pelo povo todo, por mim mesma, por minha família. Estamos nas mãos de gente que vê a coisa pública como propriedade deles. Não respeitam nada, nem ninguém, e não são dignos do voto que receberam, voto de confiança, na confiança.

É frustrante e desanimador o quadro atual de nossa crise, principalmente porque o maior feito da Operação Lava-Jato é desvelar o funcionamento da política nacional e a essa altura, deve ter muito político profissional perdendo noites de sono. A lógica é que, na hipótese do impeachment de Dilma, da cassação de seu mandato ou de uma eventual renúncia, haverá uma mudança. Mas ela será superficial, infelizmente. Enquanto não houver uma drástica reforma política, tudo indica que as negociatas e tenebrosas transações continuarão como dantes, aliás, como sempre foi na nossa funesta história republicana. Até lá, vamos caminhando com a Lava-Jato e operações colaterais.

Bom fim de semana procês!