2015: um ano para ficar na História

justiçabandeiraNão me parece que esta seja uma página infeliz da nossa história. Tampouco considero nossos tempos perfeitos, longe disso, mas a verdade é que as falcatruas estão vindo à tona, pouco a pouco e com uma velocidade crescente. Penso que estamos faxinando o Brasil.

Duas “instâncias” saem fortes com toda essa crise. A primeira é a Polícia Federal, claro. Sem ela, sem sua isenção de ação, não chegaríamos aonde chegamos e não chegaremos aonde devemos chegar, ainda que atrasados. A segunda somos nós, povo brasileiro. Sairemos fortalecidos da crise enquanto povo, estamos sabendo das tenebrosas transações e começando a entender a trama da suja política brasileira. Não sou ingênua a ponto de achar que isso será suficiente, mas vejo esse quadro como uma quebra de padrão em nossa História.

Analisando friamente: deixamos a condição de colônia por mãos portuguesas, ou seja, por quem já estava no poder. A proclamação da República foi um golpe com forte atuação militar e de cafeicultores insatisfeitos com a Lei Áurea, ou seja, poderosos do império. A Velha República foi desmantelada por militares que entregaram o governo provisório a Getúlio Vargas, que tratou de ficar lá por mais tempo (um total de 15 anos), com muito apoio militar. A ditadura getulista também acabou com a iniciativa de militares. Getúlio assumiu de novo em 1951 e saiu da vida para a História, em 1954. Sofremos um golpe militar dez anos depois (esta, sim, a página mais infeliz de nossa história republicana) e quem nos livrou dessa ditadura foram os próprios militares.

Agora é diferente, são os servidores civis da nação trabalhando com afinco em prol de todos. É a Constituição de 1988 colocada em prática, com todas as instituições de controle do Estado envolvidas. Sinto que estamos sendo libertados por nossos iguais, e isso me dá uma enorme satisfação.

Neste sentido, aproveito a oportunidade para abrir um parêntese e dizer à V. Excelência, Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha:

“Meu senhor, quem não deve não teme. Se V. Excelência não tivesse a mínima suspeita pairando sobre sua cabeça, certamente não haveria necessidade do Estado brasileiro gastar recursos com busca e apreensão em recantos de sua influência e de seus paus-mandados. Naturalmente, esse argumento serve para todos os outros envolvidos nas operações da PF, incluindo o senador preso e o filho do Lula, ou o próprio Lula. Por favor, compreenda que o alvo da PF não é um ou outro partido político, mas qualquer pessoa física ou jurídica que atente contra a nossa nação, esteja ela ligada a que partido for, ou mesmo a nenhum. Mas o seu caso é agravado porque V. Excelência é Deputado Federal, Presidente da Câmara dos Deputados, e ainda utiliza seu cargo público para manipular o rumo das investigações sobre sua pessoa. O que mais o senhor queria? Huuum, deixe-me adivinhar: talvez o mesmo que o Francis Underwood. Ocorre que isso jamais poderia lograr êxito, suas aspirações são totalmente diferentes. Frank quer poder, nada de contas na Suíça, nada de Jesus.com e outras do gênero. Frank Underwood é bem mais inteligente e focado. Frank é um criminoso imoral, amoral, sem um pingo de ética, mas não mexe em dinheiro que não é dele (pelo menos não mexeu até o final da terceira temporada de “House of Cards”). Já o senhor, bem, há dúvidas quanto a isso, para dizer o mínimo.”

“Também me parece que o senhor despreza seu povo e acha que o “mal” que lhe atinge é uma encomenda do governo ao qual o senhor se opõe. Não é. Ou seria mera “coincidência” que alguns do PT e o senhor e seus paus-mandados estejam envolvidos nos mesmos esquemas? Um dia a investigação chegaria aos seus domínios. A teia é complexa, mas nossos bravos agentes e delegados da PF a estão desemaranhando, dentro da Lei e dos princípios constitucionais. Apesar de ser o Presidente da Câmara, tenho cá minhas dúvidas se o senhor sabe o que é isso.”

Fecho o parêntese.

Este ano de 2015 foi, portanto, um ano diferente. Estamos conhecendo todo o potencial de nossa democracia, de nossas instituições. Ousaria dizer que estamos no começo de uma nova era, apesar de todos os problemas. Sou intrinsecamente otimista, e vejo que estamos escrevendo uma página de nossa História que dará muito orgulho aos nossos futuros compatriotas. Estou certa de que teremos de volta nosso orgulho de ser brasileiros e de ter feito uma faxina completa em nossa política. Estamos apenas no início.

Como esta é a última crônica de sexta do ano (ganhamos um recesso até o dia 03 de janeiro, oba), desejo a todos Boas Festas!

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