Nossos líderes, nossa História

A incrível

A incrível caricatura de Ruy Barbosa é do também incrivel “Modernismo no Rio de Janeiro”, de Monica Pimenta Velloso.

Como já comentei em outras ocasiões, aprecio a História e os personagens que influenciaram os fatos marcantes que antecederam esse presente tão insólito. E fico pensando: o que será que Ruy Barbosa, célebre senador brasileiro (mas péssimo Ministro da Fazenda) e o mais brilhante e talentoso político, pensaria sobre o baixíssimo nível da política neste início de século XXI? Será que ele imaginou que algum dia, no futuro, senadores da República que ele ajudou a erguer seriam investigados por crimes? Que estes mesmos senadores seriam capazes de proferir palavras de baixo calão do alto da tribuna?

Certamente que não. Nem nós, contemporâneos, esperaríamos tanto descalabro. A decadência ronda a política brasileira há tempos, e temo que ainda não estejamos vivendo o auge da decadência, mesclada com uma insensatez tão insana quanto cínica. A cada dia se descortinam novos fatos, novas informações, e assistimos nossa nação ser saqueada por todos os lados, independente de ideologias. Mas apenas um partido instituiu o saque da nação como modus operandi de arrecadação de renda para perpetuar-se no poder. Ao que parece, é isso que se depreende dos depoimentos na CPI e das delações premiadas que vieram a público até o momento, segundo os desdobramentos da Operação Lava-Jato.

Ruy Barbosa deve estar se revirando em seu sono eterno, tamanhos os pesadelos produzidos pela pátria que ele tanto amou e honrou. “Honra”, aliás, é léxico esquecido, palavra que os mais jovens devem pensar ser de outra época, tipo “pharmacia”, há muito tempo extinta do uso cotidiano. Muitos dos atuais políticos simplesmente a riscaram de seus dicionários, de suas vidas e atitudes cotidianas.

Ruy era um líder, uma sumidade, um talento único, é verdade. Nossa pátria sempre teve líderes fortes ao longo de sua História, que congregaram o povo num ideal, e Ruy foi um dos primeiros da era republicana. Tivemos ainda Getúlio Vargas, Luiz Carlos Prestes, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Ulisses Guimarães.

Lula poderia ser colocado na minha lista, mas não fez o dever de casa. A Esplanada estava lotada quando de sua primeira posse como presidente, lembram-se? Foi um momento e tanto de nossa História, que resultou num boneco dele inflável, gigante, vestido de presidiário… em agosto de 2015, na mesma Esplanada, apenas 13 anos depois daquele dia mágico. Creio que em breve as provas e testemunhos necessários virão a público, e o “dia mágico” será lembrado como o início do pesadelo e derrocada de uma nação que estava pronta para deslanchar.

Dilma, por sua vez, nunca liderou nada. Sinceramente, ela não é capaz de liderar a roubalheira, e muito menos uma mudança de comportamento em seus comandados e correligionários. Duvido que tenha liderado sua campanha um só dia, e como a péssima líder que sabemos que é, admitiu que demorou a perceber a crise, mas não assumiu a responsabilidade por ela.

Pior é perceber que ela e sua equipe continuarão falhando. Não vejo o mínimo facho de luz no fim desse longo túnel de mais de três anos.

O que mais me entristece é que Dilma é a primeira mulher a presidir o Brasil. Embora nunca tenha votado nela, devido ao partido ao qual é filiada e por ser criação de quem é, tive alguma esperança no início de seu primeiro mandato, simplesmente por ser mulher. Hoje, sinto-me triste — traída, até — pois ela deixa uma marca muito negativa da capacidade feminina: querendo ou não, ela representa a nós todas. Além de tristeza, sinto vergonha da nossa “roraimada” presidente.

A esperança do povo escasseia dia após dia. Não temos um líder que nos entusiasme, alguém verdadeiramente comprometido em fazer da política um meio de tornar nossa pátria melhor para todos. Vemos, sim, um bando de gente despreparada e ávida por enriquecer e ter poder de todas as formas, fazendo a seu modo uma releitura do “voto de cabresto”.

E é essa falta de esperança e de compromisso que muito provavelmente impede a ascensão de novos e verdadeiros líderes. Compreendo: é realmente difícil que alguém de bem queira se misturar a esse meio, e a meia dúzia de gatos pingados que se arrisca não tem destaque.

Estou triste, e percebo muita gente triste também. Não sei qual será o desfecho disso tudo, mas estou certa de que precisamos passar por isso para aprender, crescer e aparecer como nação. Até lá, vamos acompanhando com atenção os desdobramentos dos fatos nestes tempos nefastos. É um momento importante de aprendizado para o exercício da cidadania.

Enquanto vamos vivendo a História e aprendendo o que ensinar às próximas gerações (que, espero, sejam mais felizes e conscientes em suas escolhas), desejo a todos um bom fim de semana!