Andam fumando maconha estragada

Eu queria, e tentei, tentei mesmo escrever mais um pouco sobre Bonito, mas não foi possível, desculpem. Com alguns acontecimentos desta semana, preciso refletir a respeito e os convido a fazê-lo comigo.

Cometi a curiosidade (ou burrice, afinal eu podia prever o que me esperava) de ler a entrevista que Frei Betto concedeu à Folha de São Paulo no último domingo. E fiquei pasma ao perceber que ele não enxerga algumas coisas bem óbvias.

Começa dizendo que teme que Dilma renuncie. Ao que parece, mais de 70% da população não teme, mas deseja ardentemente que isso aconteça. Apesar disso, alguns andam repisando a afirmação de que a presidente tem a legitimidade do voto. Isso é um fato inegável, mas tão legítimos quanto o voto popular são os mecanismos constitucionais previstos para renúncia e impeachment. A população, incluindo vários votantes, mudou de ideia de outubro para cá, e isso também é tão legítimo quanto o voto popular, faz parte da democracia: é o processo de avaliação contínua, de liberdade de manifestação. Não foi assim no impeachment de Collor? E também seria legítimo (e inclusive patriótico) que a Dilma pensasse: Vou pra casa, não dou conta.

O frei afirma que a “esquerda” deveria aprender com “as poucas coisas boas que a direita faz”, como, por exemplo manifestações aos domingos, e não atrapalhar o tráfego durante a semana. Reduziu a manifestação no meio da semana ao trânsito, que análise rasa! Se o frei não sabe, o grupo a que ele se refere como “direita” faz suas manifestações aos domingos porque trabalha na segunda-feira, na terça, na quarta, na quinta, na sexta-feira e no sábado. O frei e seus asseclas precisam aprender não apenas o dia certo de se manifestar, mas, principalmente, o valor do trabalho e do esforço de cada um. Dá pra entender ou precisa desenhar? Esses são, portanto, os verdadeiros trabalhadores do Brasil, os que produzem algum bem ou serviço para toda a sociedade e não têm tempo para ocupar hora útil de trabalho com manifestações. Mas, como não desprezam e entendem a importância do ato de se manifestar, o fazem durante sua folga. Afinal, o que é “esquerda” e “direita” no Brasil? Isso merecia uma reflexão mais aprofundada de um estudioso de movimentos sociais, não?

Segundo a Folha, o frade ainda espera uma manifestação do PT sobre a existência ou inexistência do mensalão. Como? Fumou maconha estragada? O mensalão foi provado, os envolvidos foram julgados e condenados pela Suprema Corte. Não é suficiente? Só serve uma declaração da turma de volume morto? É uma clara demonstração da falta de confiança do frade nas instituições nacionais, que agiram de acordo com a lei, em observância aos princípios constitucionais. O pobre do frei está “indignado” com a descoberta de que o Zé Dirceu faturou R$39 milhões com consultoria, enquanto alguns otár… digo, companheiros, faziam vaquinha para pagar sua multa do mensalão. Por ser um frei dominicano, certamente ele fez voto de pobreza e provavelmente não teve meios ($$) para contribuir com o companheiro Zé Dirceu e (ufa!) escapou desse vexame.

Frei Betto também falou a respeito do debate sobre religião na política e ensino religioso nas escolas. Foi feliz ao dizer que uma das mais importantes conquistas foi a laicização do Estado, mas pensa que as escolas devem ensinar as religiões. Bom, quem coloca o filho numa escola católica, sabe que haverá aulas com essa doutrina; o mesmo ocorre com escolas protestantes e israelitas. É uma escolha consciente dos pais que podem e querem pagar escola para os filhos. As escolas públicas, por outro lado, sendo pertencentes ao Estado (e, por definição, laicas), poderiam até mencionar as religiões como conteúdo cultural, inserindo o tema entre os conteúdos de História ou de outra disciplina afim. “Religião” como parte do currículo escolar ocupa um precioso tempo que poderia ser aproveitado com aquilo que realmente interessa, e em que ainda não conseguimos avançar: o ensino de português, matemática, ciências, geografia, história, só para citar o básico.

Foi uma entrevista cansativa essa do Frei Betto, vamos combinar. Fiquei decepcionada com as análises rasas que ele fez, com as críticas ao PT e ao governo tendendo a zero, muito pouco para a situação que estamos vivendo. Essa entrevista só fez confirmar que ele é um petista como outro qualquer: cego e alienado, incapaz de fazer uma análise crítica com o mínimo de profundidade e repetindo o mesmo mantra que já está dando nos nervos de muita gente.

Sei lá, para mim um frade deveria se dedicar a atividades e questões mais nobres. Talvez ele fosse mais feliz, contribuísse mais com a nação dedicando-se à espiritualidade dos mais pobres. De quebra, nos pouparia de sua patética figura em cargos de governo de pouca serventia.

E um bom fim de semana procês!