Bonito de viver

vaniabonitoFérias são sempre boas, pena que acabam. Mas ficam as lembranças, e minhas últimas férias deixaram ótimas recordações. Este nosso Brasilzão sempre tem uma surpresa para nos oferecer. Desta vez, ficamos na região Centro Oeste mesmo, e visitamos Bonito, no estado do Mato Grosso do Sul.

Não pretendo fazer um relato da viagem nesta crônica, mesmo porque em breve publicarei um “diário de bordo” aqui no meu site, detalhando os passeios, a comida e exibindo algumas fotos. O que me motiva a escrever esta crônica é que em Bonito pude ver que o turismo no Brasil pode dar muito certo.

Creio que todos nos lembramos de que um dos argumentos para termos Copa do Mundo (a Copa das Copas) e Olimpíadas no Brasil era a atração de turistas. De fato, a Copa elevou o número de estrangeiros que visitaram nosso país — foi a primeira vez que recebemos mais de seis milhões de estrangeiros. Mas será que manteremos este número em 2015? E será que estes turistas voltariam ao Brasil?

Vamos combinar: em geral, o Brasil recebe mal o turista estrangeiro. Não me refiro à hospitalidade e simpatia, nisso nos garantimos, com certeza. Faço referência às condições gerais de turismo. Por exemplo, em algumas cidades o Uber, aplicativo para transporte individual, está proibido — o sistema existe em mais de 50 países. A maioria das pessoas não fala inglês (incluindo guias turísticos, garçons, taxistas) e, portanto, involuntariamente, acabam não atendendo bem e não ajudando a dar informações. Muitas cidades e praias estão longe de ser um primor de limpeza, aliás, são sujas mesmo. E a comida, apesar de saborosa, algumas vezes deixa a desejar no quesito higiene. Muitos taxistas estão completamente despreparados, e Brasília é o principal exemplo, a meu ver (precisamos do Uber com a máxima urgência).

Em Bonito, pude ver que com trabalho, dedicação e visão de futuro, o turismo não só dá certo, como também é a principal e melhor forma de distribuição de renda entre a população.

Tudo começou ainda na década de 1980. Um bonitense enxergou o potencial da região e abriu o primeiro restaurante — julgaram-no louco. Um estudante que se tornou posteriormente professor da UFMS se associou a ele e criaram o primeiro curso de guias turísticos da cidade. Muita gente ainda não acreditava que poderia dar certo, e a procura foi bem pequena. Trinta anos depois, a principal fonte de renda de muitas famílias é justamente o turismo.

A cidade é organizada e limpa. Não há mendigos, nem drogados nas ruas, todos trabalham. É proibido pescar nos rios da região e todos os passeios são acompanhados por guias, ninguém vai sozinho. Os guias são bem preparados, mas alguns não falam inglês, apesar da enorme afluência de estrangeiros; por sorte sempre tem alguém para ajudar (é um ponto que ainda precisa melhorar em Bonito). Todos os passeios devem ser marcados com antecedência por meio de agências, não adianta simplesmente chegar ao local e querer fazer. São todos tabelados, e a concorrência entre agências fica por conta do atendimento, simpatia e eventual desconto conforme o número de passeios contratados.

A operação dos locais de flutuação, por exemplo, é organizadíssima. Roupas de neoprene, máscaras e snorkel já estão incluídos no preço do passeio. Em todos os locais há um treinamento prévio para a prática e os guias são conhecedores dos peixes que podemos encontrar nos leitos dos rios, são tão bem preparados que pessoas que nunca praticaram a atividade e não sabem nadar conseguem fazer e ganhar segurança. É realmente incrível o preparo psicológico deles. São educadíssimos, impessoais e não apelam, mesmo quando há turistas mais difíceis de lidar.

Os restaurantes são agradáveis e oferecem pratos regionais como carros-chefes dos cardápios, mas não deixam de oferecer aquelas refeições mais comuns para quem não está a fim da experiência gastronômica. Os cardápios têm a descrição dos pratos em português e em inglês, o que ajuda muito o turista estrangeiro, já que a maioria dos garçons não fala inglês.

Vimos três pontos de táxi na cidade (que é pequena, cerca de 20 mil habitantes) e o preço é único: quinze reais até 22 horas; depois disso, vinte reais.

A parte de souvenires é que precisa melhorar — não há artesãos na região e é quase impossível comprar algo de decoração, por exemplo. Algumas lembranças são bem caras e não valem o preço cobrado. Ainda assim, garimpando, podemos encontrar algumas coisinhas legais e com bom preço.

A quantidade de estrangeiros que visita Bonito é significativa, com destaque para os holandeses durante nossa estada. Fizemos um passeio em que éramos dez pessoas, oito eram holandeses. Mas passeamos também com israelenses, belgas, peruanos, alemães. Todos felizes e maravilhados com nosso país (que é mesmo uma maravilha).

Enfim, o município investe em sua gente e prepara os cidadãos para o atendimento ao turista, que é impecável no quesito simpatia e receptividade. Bonito parece ser o estudo de caso perfeito para a atividade turística que gera emprego e renda. A região, que tinha economia voltada exclusivamente para a agropecuária, uma atividade concentradora de renda, demonstrou que com empenho e organização é possível transformar a realidade local e melhorar a qualidade de vida da população com trabalho e melhor distribuição de renda.

Deu vontade ir lá? Bom, a dica é planejar tudo com antecedência, porque é bonito de verdade, faz jus ao nome, mas é caro. O retorno do investimento é imediato: paisagem incrível, passeios bem organizados (alguns indescritíveis), convivemos com gente bacana e há riquíssima fauna e flora para apreciarmos. Aprendemos mais sobre a natureza e seus fenômenos, com gente bem preparada e feliz. Bonito de viver!