Palavras que a História eterniza

620-presidentesGosto de História, procuro sempre ler algum livro ou matéria relativa à descoberta de documentos, restos mortais de figuras históricas, entre outros. Depois que passei a me interessar pelo tema, passei também a ver os acontecimentos do Brasil e do mundo com outros olhos, não apenas buscando a razão do presente no passado, mas também tentando antever e conjecturar o futuro.

Personagens históricas obrigatórias são presidentes, reis, imperadores, emires, ditadores, entre outros líderes e chefes de estado, de governo, de países, reinos, territórios. É natural que partes de seus discursos e algumas de suas falas e frases entrem para a História, e, sendo tanto bem quanto mal ditas, ficam para a posteridade, principalmente nestes tempos de internet, redes sociais, vídeos etc. Entre as mais famosas no Brasil, podemos citar a de D. Pedro I “se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto! Digam ao povo que fico” e aquela escrita por Getúlio em sua carta-despedida: “Saio da vida para entrar na História”.

Vamos pegar um recorte histórico e ver o que ficou eternizado, e agora amplamente divulgado pela internet. Comecemos com Juscelino Kubitschek, um homem de realizações. Construiu uma cidade inteira, realizando o sonho dos patriarcas da independência, de que a capital estivesse no centro de nosso território. Se alguns de seus sucessores soubessem, poderiam imitá-lo, pois ele afirmou: “Costumo voltar atrás, sim. Não tenho compromisso com o erro”.

A imagem de Jânio Quadros com uma vassoura é sempre lembrada, mesmo por quem, como eu, não foi contemporâneo de sua campanha presidencial. Uma frase dita por ele não é muito conhecida, mas é a mais pura demonstração de que a História pode se repetir: “O descalabro das finanças e o descalabro administrativo… Um segue os passos do outro”. Jânio, que conhecia bem nosso país, disse ainda que “o interior salvará o Brasil; e se não salvar, nada o salvará”. Boa parte do nosso PIB está no agronegócio, principal atividade de estados do interior do Brasil, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Minas Gerais… Por enquanto, é o agronegócio que sustenta (e salva) o Brasil.

Em seu célebre discurso na Central do Brasil, João Goulart mirou no que viu e acertou no que não viu, ao dizer (referindo-se à direita): “A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobras; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais (…)”. Bom, a Petrobras está liquidada e “abrindo o capital” (ou seja, sendo privatizada). Essa proeza, antevista por Jango, está acontecendo, só não é um feito da direita.

Entre os presidentes-generais também ficaram gravadas algumas frases interessantes. Por exemplo, Castelo Branco disse que “a esquerda é boa para duas coisas: organizar manifestações de rua e desorganizar a economia”. Qualquer coincidência com o presente é coincidência mesmo, porque ele não viveu o suficiente para conhecer o PT. Outro general disse que iria fazer deste país uma democracia, e, realmente, o autor, João Figueiredo, abriu as portas para isso, mesmo preferindo cheiro de cavalo a cheiro de povo e querendo que a nação o esquecesse.

O imortal (em todos os sentidos) José Sarney até disse uma coisa certa: “Durante o meu mandato, a história se contorceu, mas a democracia não murchou na minha mão”. Contorcida e do alto dos meus 12 anos, exibi no peito aquele adesivinho “sou fiscal do Sarney”, lembram? Foi uma época horrorosa, difícil, mas sobrevivemos e aqui estamos, agora com outras lutas, desesperados, com medo de que voltem aqueles tempos… Porque, como disse Jânio Quadros, “a inflação dissolve o dinheiro, avilta os tesouros, compromete o crédito, perturba a produção, paralisa as obras, dessora os governos, depaupera os particulares, fermenta as revoluções”.

Depois de D. Pedro I, Fernando Collor foi o governante que mais gostava de sua virilidade, e declarou aos quatro ventos: “Eu tenho aquilo roxo”! Ainda achava que terminaria seu mandato e que as pessoas, no futuro, diriam: “Lá vai o Collor, ele fez um bom governo”. Mas a história reservou a ele, até o momento, o único impeachment da História do Brasil.

Itamar Franco era zoado por muita gente, nos quatro cantos do Brasil. Collor, que o escolheu para vice, certa vez afirmou que “o Itamar é um perfeito idiota”. Já Itamar, sobre o Collor, disse que “muito cedo, durante sua atuação na Presidência, percebi tratar-se de um canalha”. Mas a verdade é que Itamar foi um democrata importante para o nosso país. Em outra ocasião, falou que “o Brasil precisa esquecer um pouco Nova York, Manhattan, e pensar em suas favelas, no seu povo sofrido”.

Fernando Henrique Cardoso talvez tenha sido o mais intelectual dos Chefes de Estado brasileiros depois de D. Pedro II. Sem esquecer seus feitos relativos ao Plano Real, e que vários programas do governo de seu sucessor foram continuidade de programas de sua era, FHC declarou que comemorava a distribuição de renda: “A política dele (Lula) é a minha”. Também é um grande democrata, e prova isso ao dizer que “apesar de a gente às vezes se irritar com a mídia, ela é essencial, porque ela impede o grande erro”. Além disso, quem conhece um pouquinho de sua história de vida e das bases de seu partido, o PSDB, sabe que é verdade que as diferenças entre PT e PSDB “são muito mais em relação à disputa de poder do que sobre ideologia”.

Lula sempre falou muito e até ganhou um rock chamado “Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou”. Suas analogias com futebol eram muito didáticas, e por mais que achemos rasas, passavam a mensagem ao povão, e isso é o que interessa. Lula sabe chegar às multidões, porque fala para o povo e como o povo. À época do Mensalão, afirmou que “cortaremos na própria pele se necessário”; mas Zé Dirceu e companhia nunca foram expulsos de seu partido, ficando o dito pelo não dito. Lula diz e se contradiz o tempo inteiro: “Não sei de nada” é sua frase mais lembrada, mesmo que tenha declarado, alguma vez que “pelo bem ou pelo mal, não tem como o presidente da República dizer que não tem responsabilidade. Sabendo ou não sabendo, o presidente da República tem responsabilidade e tem que mandar apurar”. Bom, até o momento, não o vimos ser responsabilizado por nada. Mas o estranho pedido de habeas corpus, cuja autoria ele e seus advogados negam veementemente, remete a algum tipo de responsabilidade por algo que suspeitamos que tenha ocorrido. Cada nova informação da Operação Lava-Jato nos aproxima mais do poderoso chefão.

Já a atual presidente parece desconhecer aquele dito popular, “em boca fechada não entra mosquito”, e num curto espaço de tempo soltou várias pérolas. Não bastasse a saudação à mandioca, grande conquista de nosso país, a mulher (mais) sapiens do Brasil disse, esta semana, não respeitar delator, já que ela própria nunca entregou ninguém, nem mesmo sob tortura. O que ela quis dizer? Que o senhor a quem ela se referiu não deveria ter citado ninguém? Que a Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário praticam tortura? Ora, o senhor em questão, juntamente com a Polícia Federal, está fazendo uso de um dispositivo legal, com tudo gravado e com testemunhas, muito diferente do que ocorreu nos porões da ditadura. Convém lembrar que a lei que regulamenta a delação premiada foi sancionada por ela própria. Suas “frases de efeito” também entrarão para a história, neste capítulo sombrio que já dura longos doze anos e meio.

E um bom fim de semana procês.