Transtornos mentais

empty-those-pockets1Comecei a escrever este texto no domingo, 15 de março, enquanto as manifestações pelo Brasil ainda ocorriam. Gente, vamos combinar, é bom demais morar num país tropical abençoado por Deus, bonito por natureza e com uma gente engajada! Só em São Paulo, 1,0 milhão de pessoas na rua, em Brasília, 45 mil, no Rio de Janeiro, dois atos; a contabilidade final somou 2,0 milhões.

Quem me conhece sabe que não voto no PT nem para síndico de prédio. Já votei, não vou negar, apesar dos diversos avisos que havia recebido de meu pai. Mas logo no primeiro semestre de 2003, percebi o big mistake que havia cometido, sabem como é, trabalho em órgão público federal. Naquele momento, entendi o tipo de gente que tinha sido eleita.

Brasília liderou: nas eleições de 2014, depois de quatro anos de uma administração desastrosa, o PT não teve chance por aqui. Conhecemos bem essa gente e seu modo de operar. As consequências vêm depois: na Capital Federal está acontecendo em pequena escala e antecipadamente o que acontecerá com todo o Brasil quando esse grupo deixar o governo. A situação é caótica. Temos um governo novo, com uma herança verdadeiramente maldita e a população inteira pagando, na forma de impostos aumentados, e sofrendo na pele a falta dos serviços essenciais. O novo governador do DF assumiu com apenas R$ 64 mil em caixa, muito pouco para a única unidade da federação que recebe o fundo constitucional, no valor de R$ 11 bilhões anuais. Se o Aécio tivesse ganhado, quanto teria no caixa da nação? Sinceramente, acho até que menos que isso, já que foi preciso fazer um esforço brutal para mudar a legislação e maquiar as contas de 2014, estão lembrados?

É preciso que recordemos o segundo mandato de FHC. A maior parte do período foi tomada por faixas, pichações e outros tipos de expressão com os dizeres “Fora FHC”. Quem comandava tais palavras de ordem, adivinhem? O mesmo grupo que agora condena o “Fora Dilma” e governa o país. E, verdade seja dita, na era FHC não houve nenhuma manifestação como essa que presenciamos no último domingo. Sabemos o motivo: não havia a pouca vergonha às claras como vem ocorrendo com relação à PeTrobras, as quantias escandalosas, além da suprema incompetência administrativa. Para completar, a nomeação para o STF de Dias Toffoli, advogado do PT, foi a cartada inadequada no momento mais inapropriado. Será a situação de alienação ou esquizofrênica? Está destacada da realidade ou delira numa realidade paralela?  A julgar pelos últimos acontecimentos, incluindo o pronunciamento seguido de coletiva na noite de domingo e o pronunciamento da presidente na última quarta-feira, o diagnóstico não pode ser outro: além de alienados, são delirantes.

O atual grupo governante mente tanto que acredita nas suas mentiras como se verdades fossem, corroborando a máxima de Joseph Goebbels. E nesse mar de mentiras, destroem reputações. Destruíram a reputação de FHC, logo ele, que entregou ao seu sucessor um Brasil em condições perfeitas para crescer e arrebentar a boca do balão. Este sucessor, por sua vez, criou sua continuação, que em pouco tempo acabou de destruir o trabalho iniciado em 1993. O engraçado é que a situação já foi pedir socorro ao FHC — eles próprios enxergam o ex-presidente como salvador da pátria.

São muito bons também em desviar o assunto. Criam alcunhas e rebatem as argumentações contrárias a eles e a seus interesses, acusando os outros. E aí só podemos concluir que a situação, além de alienada e delirante, também é psicótica: pede socorro ao FHC e diz que a culpa é dele.

E no meio dessa loucura toda, há pessoas que apoiam o governo. Não me refiro aos ocupantes de cargos políticos, que, claro, querem se manter em suas confortáveis cadeiras.  Estou falando de gente de bem, que não tem cargo nenhum e não consegue ver o que está acontecendo ao seu redor. Que cachaça é essa? Que fé cega é essa? E essa conversa de acusar a “elite branca” incomodada com os novos frequentadores de aeroportos já cansou. Esse mimimi de direita x esquerda, como se estivéssemos falando de dois times de futebol, já encheu. Até porque não sou eu, nem ninguém que eu conheço que apoiamos gente como Sarney, Calheiros, Collor e Maluf. Eles são aliados do PT. Nossos “esquerdinhas” de plantão se “esquecem” desse, digamos, infortúnio.

Estamos entrando em recessão, sim. Depois virá o desemprego e a culpa será da “elite branca”? Essa elite que se manifesta aos milhares, incluindo a minha manicure? E não me venham com aquele papo de que essas pessoas formam a massa manipulada. Não. Foram lá protestar de graça (já outros…) e têm consciência, na ponta do lápis e no bolso cada dia mais vazio, dos motivos pelos quais protestam. Em tempo: nenhum dos manifestantes de 15 de março recebe bolsa-coisa-nenhuma. Os protestos foram no domingo e não no horário de expediente, sim, estou falando dos verdadeiros trabalhadores do Brasil!

Citarei o seriado “House of Cards”, onde o presidente dos EUA, com 8% de aprovação, renunciou. O índice de aprovação da presidente tupiniquim está despencando dia após dia, e está próximo do de Collor às vésperas do impeachment. Ela vai renunciar? Duvido! A teimosia, a arrogância e a vaidade desse grupo não permite admitir o fracasso e retirar-se do páreo antes que o país inteiro despenque. Parecem não estar nem aí para o país. Oxalá eu esteja errada, apesar das evidências.

Mesmo que as manifestações de 15 de março tenham me deixado muito feliz, confesso, tenho cá meus temores. Explico com uma frase de Frank Underwood, de “House of Cards” (novamente): “A um passo da presidência e nenhum voto computado em meu nome. A democracia é tão superestimada!” Bom, o Temer tem legitimidade para assumir, afinal teve votos, estava na chapa. Mas se alguma coisa acontece com ele, teremos nosso Frank Underwood no Planalto, sem um voto sequer computado em seu nome para presidente. Aliás, ele já está com tudo: foi quem anunciou a demissão do Cid Gomes.

E, apesar de superestimada, a democracia deve prevalecer. O que precisamos não é uma mudança no regime, e sim uma reforma na maneira como o regime é conduzido. Na prática, no Brasil atual, a independência entre os poderes está muito, muito frágil. Taí o Dias Toffoli para corroborar.

Também o governo cometeu um acerto importante, vamos reconhecer: não impediu, nem reprimiu as manifestações de 15 de março. Não nos venezuelaram (ainda), ainda bem.

Apesar de todos os transtornos mentais múltiplos com os quais temos sido obrigados a conviver, desejo um bom fim de semana procês!

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