A novela nossa de cada dia

michel_taisGosto do léxico “insólito”. A meu ver, é a palavra que melhor traduz as esquisitices do nosso dia a dia. Se pensarmos bem, a realidade é insólita, e parece saída das páginas de livros ou de roteiros de cinema ou de novela. Vejamos alguns exemplos.

À medida que as investigações avançam, descobrimos que a corrupção na Petrobras daria um roteiro no estilo da premiada série “House of Cards”.  A diferença é que o nível aqui é bem mais baixo.  Como o próprio Frank Underwood disse: “Dinheiro é a mansão no bairro errado, que começa a desmoronar após dez anos. Poder é o velho edifício de pedra, que se mantém de pé por séculos”.

Estamos no décimo terceiro ano e a mansão está dando contundentes sinais de desmoronamento. Foram ávidos demais ao pote de mel, tiveram pouca inteligência e estou começando a achar que não havia projeto de poder nenhum, ou, se houve algum dia, foi destruído pelo desejo voraz de se ter uma mansão.  Testemunhamos isso logo nos primeiros meses, com aquela história da Land Rover, alguém ainda se lembra? Citando novamente Frank: “Não respeito quem não sabe distinguir os dois”.

Aguardemos, pois, os próximos capítulos do suspense “PeTro of Cards”.

Digna de comédia é, sem dúvida, a história do ex-BB e atual Petrobras. O homem é do tipo que guarda dinheiro no colchão! No caso, a “módica” quantia de R$ 200 mil. Um banqueiro guardando dinheiro em casa? Sim, senhores!  Seria engraçado se não fosse tão suspeito, mesmo porque ele teve que dar explicações à Receita e, sem sucesso, optou por pagar uma multa de R$ 122 mil. Será que ele pagou em dinheiro vivo?

O romance policial pode ser representado pelo falecimento recente do procurador Alberto Nisman, na Argentina. A cena da morte é digna do conto “Os assassinatos da Rua Morgue”, de Edgar Alan Poe. Nisman foi encontrado morto no banheiro de sua casa, com um tiro na cabeça, as portas do apartamento estavam fechadas por dentro. E ele era ninguém mais, ninguém menos, que o homem que denunciaria a presidente e o chanceler daquele país ao Congresso Nacional por acobertar os responsáveis por um atentado antissemita que abalou a Argentina há mais de 20 anos!

Suicídio induzido ou assassinato? Porque está claro para o povo argentino que não se trata de um suicídio comum. As investigações ocorrem em meio a declarações superficiais da presidente… pelo Facebook! Cristina Kirchner demorou uma semana para fazer um discurso à nação sobre o ocorrido, e em nenhum momento prestou condolências à família do falecido, que deixa duas filhas pequenas. “House of Cards”. Outra vez.

Já a história do José Dirceu parece um filme de super-herói. Às avessas, claro. O homem sai do país para o exílio, jovem perseguido pelo poder ditatorial. Vive muitos anos fora, faz cirurgias plásticas, muda sua aparência drasticamente e retorna com poder e glória, trazendo embaixo do braço um projeto para o país. O final dessa história, que todos sabemos, é que dá o tom às avessas. Mas, aqui, ó, será que essa história já chegou ao final mesmo?

Alguns dramas pessoais dariam roteiros românticos tipo água-com-açúcar, ou livros daquelas coleções de bancas de jornal, Sabrinas, Biancas e afins. A história da atriz Thaís Fersoza, por exemplo. A moça é uma fofa, delicada e talentosa, foi atriz da Rede Globo por algum tempo. Há alguns anos, casou-se com um ator bem menos conhecido do que ela. Voltaram da lua-de-mel separados e ele pediu o divórcio. Em seguida, o ex-marido-de-uma-semana assumiu namoro com uma estrela global de primeira grandeza, enquanto ela ficou um tempão curtindo uma fossa, coitadinha. Foi difícil se recuperar do baque, mas ela reencontrou o amor nos braços do cantor sertanejo Michel Teló, que ai, se eu te pego, pegou!

Casaram-se e estão felizes. Enquanto isso, o ex-marido-de-uma-semana, vivendo com a estrela, conseguiu (finalmente!) alguns papéis na Globo. Mas há poucos dias se separaram, sob rumores de traição. É, parece que é sua vez de curtir uma fossa…

Várias cenas do BBB 2015 poderiam ser colocadas em filmes de gosto duvidoso. É tanta vulgaridade e baixaria que o show não inspira nada de realmente interessante. Mas para quem gosta… E acreditem, há gosto para tudo!

Pensando desse jeito, até dá para entender por que a literatura anda tão em baixa. É que a realidade já é suficientemente emocionante, interessante e, por vezes, insólita. Não é necessário gastar tempo em livraria, nem dinheiro. É só ligar a TV na hora do jornal e se divertir!

Só que não… Prefiro me divertir de outro jeito.

E falando em diversão, um bom carnaval procês!