Férias no Brasil só para os fortes!

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Ahhh! Janeiro, verão, mês de férias! As minhas, infelizmente, já terminaram, e, claro, além de dar um pulinho na minha Beagá, passei uns dias na praia. Não em Guarapari, onde baixa a mineirada no verão, mas em Florianópolis, onde temos parentes: nada de hotel caro na alta temporada, que sorte!

Viajar é turismo, ainda que seja para a casa de parentes. E o turismo pressupõe uma série de atividades, com destaque para a gastronomia e a venda de souvenires ou produtos da terra. Turismo pressupõe ainda toda uma infraestrutura para receber os “forasteiros”, pessoal local preparado para lidar com gente, e gente com os mais diversos costumes, vinda de tudo quanto é lugar. Infelizmente, nosso Brasil não tem os requisitos mínimos necessários para receber bem o turista, nem para fazê-lo voltar, nem para que o turismo contribua significativamente com o PIB.

A começar pelos aeroportos, parte fundamental da infraestrutura mínima. Tomemos Florianópolis como exemplo. Pouco antes da aterrissagem de nosso voo, a comissária avisou que a bagagem seria restituída na esteira de número 1. Francamente, o aviso não era necessário: só há uma esteira em Floripa, sendo que a chegada dos voos, geralmente, se dá com poucos minutos de diferença, o que resulta numa multidão se espremendo num espaço mínimo ao esperar as malas. É um aeroporto em que os embarques e desembarques só podem ser feitos com escadas, pois não há fingers. As lojinhas são minúsculas, apertadas e vendem mais do mesmo, nada de arte local, como as rendas de bilro, por exemplo. Esse tipo de artesanato está em perigo de extinção no Brasil, mas se houvesse um incentivo para produzi-lo para turismo, com venda no aeroporto, estou certa de que o número de rendeiras seria bem maior.

Em geral, os locais mais turísticos no Brasil possuem aeroportos insuficientes. Com a Copa do Mundo, o aeroporto de Guarulhos melhorou sobremaneira, e parece estar à altura de ser o maior e mais importante do Brasil. Brasília, agora, tem um aeroporto digno da capital do país, que recebe diplomatas do mundo inteiro. Mas o Galeão, Confins, Congonhas, ainda que tenham sido reformados, estão muito aquém da nomenclatura “internacional”. Ainda não estive no nordeste depois da Copa, mas não acredito que tenham dado o salto necessário.

Sobre o pessoal in loco, o que dizer? Poucos falam inglês e muitos turistas acabam “presos” aos resorts, verdadeiras “ilhas” onde há gente melhor preparada. Taxistas falando inglês, então… Raridade.

Nossas paisagens também nos garantem como bom destino turístico, mas muitos lugares legais não possuem acesso à internet e, em alguns casos, sequer telefone. O transporte público, na maioria das cidades brasileiras, é fraco, sendo sofrível em muitas delas (como Brasília, por exemplo). Segurança? Dispensa comentários. Semana passada mesmo, lamentavelmente, uma turista italiana foi assassinada no Ceará. Seria inesperado se o Brasil não estivesse entre os 25 países mais violentos do mundo, com taxa de 24,3 homicídios para 100 mil habitantes (2013). Na gastronomia até que nos saímos bem. É o que salva, isto é, se as cozinhas dos restaurantes não forem visitadas, claro.

Em 2014, parece que houve um aumento de 1,0 milhão de turistas em relação a 2013, impulsionados, claro, pela Copa do Mundo. Parece que fechamos 2014 com a visita de 7,0 milhões de pessoas vindas de outros países, nada, perto dos 36,3 milhões de turistas que visitaram a Espanha só até julho! Aliás, parte da recuperação da crise espanhola é devida ao turismo.

O Brasil é 16 vezes maior que a Espanha, tem um litoral quase duas vezes maior que o da Espanha e deve receber um décimo dos turistas que o país europeu recebe anualmente. Qual é a nossa desvantagem? À primeira vista, salta aos olhos a falta de políticas públicas eficientes, de incentivo às pequenas empresas e de formação de pessoal qualificado. Mas a verdade é que se não existe infraestrutura mínima para quem vive aqui, para o genuíno cidadão brasileiro, para os estrangeiros é que não há mesmo! Se um estrangeiro chega ao Brasil sem uma mínima noção de português ou sem um bom guia, está perdido. Literalmente.

Quando voltei da Espanha, onde fiz sozinha parte do Caminho de Santiago de Compostela, me perguntaram se não tive medo. Na verdade, nem me lembrei de sentir medo. A sensação de segurança nas trilhas, ou na beira do asfalto ou nas cidades e vilas, era a mesma: altíssima. Não é pra menos, a taxa de homicídio por lá é de 0,64 por 100 mil habitantes! Corro 38 vezes mais perigo no Brasil do que na Espanha! Socorro! Acho que isso explica por que as pessoas não se interessam pelo Brasil como destino de férias.

Vir ao Brasil como turista é tarefa para os fortes, destemidos, aventureiros ou desinformados…