Presentes de Natal

CID ENGANADORPassamos o Natal sob o impacto de uma notícia nada auspiciosa: a nova composição do ministério da presidente reeleita. Entre nomes como Kátia Abreu, que pelo menos tem conhecimento de causa na área de agropecuária, figuram outros como o de Cid Gomes, para o Ministério da Educação. Sim, o governador do Ceará, aquele mesmo que pagou um mega cachê para uma cantora badaladíssima inaugurar um hospital e um mês depois parte do empreendimento desabou, e também o autor da célebre frase: “Professor tem que trabalhar por amor, não por dinheiro”. Gomes é ainda o autor de uma proposta que criou para si uma segurança especial: por onde quer que passasse, o mundo deveria parar para reverenciar vossa, vossa… “alteza”, talvez seja esse o tratamento de sua preferência, vai saber. É este o perfil do novo Ministro da Educação do Brasil. Gostaram?

Em pronunciamento como futuro ministro, a ser empossado no dia 1° de janeiro, o cearense afirmou que o ensino médio deverá ser priorizado. Até aí, tudo bem, nada mais natural que um ministro estabeleça suas prioridades de gestão. Mas é simplesmente impossível não lembrar o enorme grupo de reitores (mais de 50) de universidades federais que formalizaram apoio à candidatura da presidente. As exceções foram os reitores da UnB (que vive em Brasília), da UFMG (que é simplesmente a melhor federal do país) e da UNIFESP (São Paulo, sabem como é). E todos esses reitores, professores, diretores, estudantes e cidadãos do Brasil receberam esse lindo presente de Natal: um novo ministro, com histórico de (des)valorização de professores e um belo representante do coronelismo, ui.

Ao que parece, os reitores, quando da oferta de apoio à reeleição, esperavam ter alguma influência na escolha do “guru” da educação nacional. Mas o que ficou demonstrado, na prática, foi sua fraqueza.

Não vou chover no molhado. Não vou perder tempo, nem gastar caracteres escrevendo sobre a importância da educação, aquela história que todos conhecemos bem. Mas que é uma enorme involução ter um Cid Gomes num Ministério que já foi comandado por lideranças célebres como Gustavo Capanema, Pedro Calmon e Darcy Ribeiro, lá isso o é. A que ponto chegamos!

E um amigo meu, professor universitário petista, vivia me dizendo: “PSDB de jeito nenhum, ai, o Paulo Renato!” Talvez agora ele esteja feliz, já que o risco de alguém com o perfil do finado Paulo Renato foi afastado, pelo menos pelos próximos quatro anos. Em contrapartida, levou de bandeja um Cid Gomes.

Ainda no saco de presentes da nossa “Mãe Noel”, Aldo Rebelo para Ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação. Pressinto que este não tenha a menor noção do que seja ciência, tecnologia e, principalmente, inovação nos tempos atuais. Talvez não faça ideia de que, além de centros de pesquisa e universidades, é preciso apoiar empresas para inovar. Mas o pior é seu histórico no tema, atuando como parlamentar: apresentou projeto de lei que proibia a adoção de inovação tecnológica poupadora de mão-de-obra. Oi? Além disso, criticou políticas de prevenção ao aquecimento global, acreditando que essa história é “uma cabeça de ponte do imperialismo”. E ele ainda acha que as previsões relativas ao aquecimento global são fruto de um “cientificismo que tem por trás o controle dos padrões de consumo dos países pobres”. O novo Ministro de Ciência do país tem, na verdade, uma “devoção ao materialismo dialético como ciência da natureza”. Será que ele fez o mesmo curso de expressão oral do Gilberto Gil?

Um perfil assim apenas demonstra que, além de não entender do riscado, sequer tem a mínima “afinidade” com um tema tão complexo e estratégico para o país. É incrível, mas Rebelo vai na contramão da tradição comunista de incentivo à ciência. Dentre as potências científicas mundiais, estão a Rússia — ainda se aproveitando dos tempos de União Soviética — e a China.

Querendo ou não, estamos pagando pra ver no que vai dar, em ambos casos. O resultado dessa política de loteamento dos ministérios em detrimento da lógica resultou na realidade de que duas áreas essenciais e estratégicas para nos alçar à condição de nação desenvolvida foram simplesmente jogadas nas mãos de ferozes inimigos. Suas armas, as canetas, já devem estar a postos para tomar as medidas necessárias para atrasar o pouco desenvolvimento que alcançamos até aqui.

Espero que pelo menos a história, no futuro, possa fazer jus e nomear esse período como o pior pós-ditadura. Sim, porque até Sarney foi mais competente com a composição de seu ministério.

Com essas notícias, é impossível desejar Feliz Natal, me desculpem. Um bom fim de semana procês!