Sobre coisas temporárias e permanentes

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Estamos na metade do mês agosto, e, ao que parece, a maré de desgraças que nos assolou em julho continua. Prova disso foi a trágica morte de um promissor político brasileiro, presidenciável em plena campanha.  O país todo está consternado, e foi inevitável pensar que, ao perder Eduardo Campos, perdemos um político com P maiúsculo, homem de ideais e um líder regional tão jovem, que queria e poderia realizar muitas coisas.

Como sempre faço, fui ler mais sobre a figura. Um dos periódicos de que gosto é a edição espanhola do El País. Houve repercussão da morte de Campos na Europa, com análises sobre o cenário político brasileiro, especialmente neste momento de corrida eleitoral. E houve algumas outras análises, como, por exemplo, de que a política no Brasil é caracterizada pelo domínio de clãs familiares. Sim, mas qual a novidade?

Muito se fala sobre as dinastias políticas em estados nordestinos, mas a verdade é que o estado brasileiro com maior número de famílias na política é Minas Gerais. Os Neves são um bom exemplo, mas o caso mais impressionante é o da família do patriarca da independência, José Bonifácio de Andrada e Silva. Há seis (!) gerações, a família está envolvida com política. Começaram em São Paulo, mas ainda no século XVIII um neto dele foi para Minas e se instalou em Barbacena, e foi este o ramo dos Andradas que se perpetuou na política nacional.

Se a política brasileira é dominada por clãs familiares, o autor da matéria que li no El País se esqueceu de dizer apenas que este “privilégio” não é exclusividade nossa.  Nos Estados Unidos, por exemplo, há vários clãs familiares na política: só de Bushes, os americanos já experimentaram dois presidentes. Os Kennedys, pela primeira vez em 63 anos, estão sem “representação” em Washington, mas já disseram que é por pouco tempo. E ainda tem os Gores, os Simpsons, os Roosevelts, os Rockefellers, entre tantas outras famílias.

E o que dizer dos países com regime político monárquico? A própria Espanha possui uma família real. Naturalmente, o espaço para outros clãs, creio, diminui. Olhando por esse lado, Minas Gerais parece levar vantagem: ao ter muitos clãs dominando a cena política, diversifica um pouco, ou, melhor dizendo, o bolo é repartido entre mais famílias.

Uma conclusão que podemos tirar disso tudo é que, assim como há famílias de médicos, de engenheiros, de advogados, a política é uma profissão de família…  O único porém é que política não é profissão, mas se tornou sinônimo de poder. E manter um poder adquirido legitimamente (ou não) parece ser o objetivo que move muitas famílias, no Brasil e no mundo.

Eduardo Campos, apesar de pertencer a um importante clã político de Pernambuco, pregava a necessidade de renovação na política brasileira. Isso é necessário e urgente, mas não é fácil. Impossível também não é, mas sempre me pergunto: qual o preço disso? Ficaria o novo político atrelado a uma dessas famílias? Talvez.

Lula e o PT, por exemplo, têm se mantido no poder nos últimos 12 anos porque não ousaram afrontar Sarney, Collor, Renan Calheiros e, mais do que isso, se uniram a eles.  É triste constatar que o interesse por todos os lados é alcançar o poder, e, conseguido isso, vale tudo, tudo mesmo, para ali se manter, até mesmo negar um começo idealista e todo um passado construído com base em ideais.

Dá tristeza, dá desânimo, uma vontade de largar tudo e ir embora pra bem longe. Já são pouquíssimos os políticos com P maiúsculo, e ainda perdemos um valioso esta semana.

Mas não pensem que porque simpatizava com o Eduardo Campos, eu votaria nele; não, e tenho cá minhas razões. Uma frase bonita que ele disse anda circulando por aí, de boca em boca, de mural em mural. Mas, infelizmente, se levarmos em conta a história e, principalmente, o atual cenário político do Brasil, está cada vez mais difícil não desistir.

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