Los alemanes son buenísimos

finalcopaPensei que conseguiria passar incólume, sem falar da Copa, mas não deu. É inevitável. O monumental schokoladen que levamos da Alemanha na última terça-feira rende assunto, e as inúmeras zoações, rapidamente publicadas nas redes sociais, até amenizaram minha tristeza patriótico-futebolística.

A criatividade dos brasileiros (e outros latinos) é impagável. Como bem diz o José Simão, o Brasil é o país da piada pronta. Com 31 minutos de jogo e cinco gols na contabilidade, as redes sociais já pipocavam uma enorme variedade de piadas. O jogo de terça-feira tem tudo para figurar no Guinness Book, porque, afinal, nem a Volkswagen consegue fazer cinco gols em 30 minutos!

Seguindo fielmente o exemplo de outro líder que nunca sabe de nada, o Felipão falou que não sabe o que aconteceu no Mineirão. Mas a galera já descobriu o que foi: as chuteiras especiais de concreto, feitas especialmente para o Fred, foram distribuídas a todos os jogadores. Assim, a culpa pode ser igualmente distribuída. Exceto para o Neymar, que estava de atestado, sabem como é. Acabou ausente do hexa e até do hepta, tudo de uma vez só! E a música legal da propaganda de um banco teve a letra corrigida: “Volta para casa Brasil e guarda no armário a chuteira que a raiva da torcida inteira vai junto com você, Brasil. Mostra tua força, Brasil, e amarra a Dilma na fogueira que não comprou a Copa inteira…”

Se alguém ainda tinha alguma dúvida de que a Copa havia sido comprada, para, eventualmente, favorecer a situação nas eleições, ficou claro que o pagamento em euros valeu mais que o cheque sem fundos tupiniquim.

Piadas à parte, fomos cruelmente surpreendidos pela inércia dos escalados pelo Felipão e por algo além de zoações. Brigas, agressões e pancadaria em Belo Horizonte, Salvador, no Rio e em Recife. Ônibus foram apedrejados e queimados em Curitiba e em São Paulo. Saques em Sampa.

Por outro lado, os jogadores alemães consolavam os brasileiros com a maior educação, o maior respeito, como, aliás, deve ser. Nenhuma comemoração, apenas sorrisos contidos com o inesperado resultado.

Diante de tudo isso, a conclusão a que chego é que, infelizmente, somos um país de bárbaros. Tenho sérias dificuldades para entender a relação entre uma derrota no futebol e as agressões e reações depredatórias, a não ser associando ao atraso, à barbárie ilógica e irracional. Deveríamos aplaudir a seleção alemã e apoiar, de alguma maneira, os jogadores brasileiros que, ao que parece, não tinham instruções a seguir, sequer um esquema tático rudimentar.

E é esse mesmo povo, essa mesma gente que depreda e agride que vai votar nas eleições deste ano. Será que são capazes de discernir Copa de eleição? Ou é tudo a mesma coisa, como querem fazer parecer alguns candidatos? O prognóstico não parece bom, e é muito possível que prevaleça a velha e odiosa política do pão e circo.

O pão é representado pelas “bolsas esmolas”. Os programas sociais vigentes não são exatamente ruins, mas não foram adequadamente planejados (ou foram?), pois se criou uma enorme dependência deles: o que era para ser temporário está se consolidando cada vez mais. E, claro, se convertendo em votos.

O circo está armado, é a Copa, com suas fan fests e feriados (nós, brasileiros, amamos um feriado). E, palhaços que sempre fomos, vamos pagando por tudo isso, afinal alguém tem que pagar a conta, incluindo os impostos de que a FIFA foi isenta.

Não sou, nem fui contra a Copa; tive, sim, certo pavor da vergonha que poderíamos passar durante um mês de evento. De certa forma, eu já esperava que fosse feita uma bela duma maquiagem nas cidades sedes de jogos e que tudo ia sair bem, até no improviso, como foi feito na Copa das Confederações do ano passado. Só não deu tudo certo em Belo Horizonte, onde uma tragédia anunciada se concretizou (desculpem o trocadilho). E ainda tivemos que ouvir o prefeito dizendo que essas coisas acontecem. É mesmo? Então, diga-nos onde mais, porque nunca antes na história deste país…

Esse é o quadro que se apresenta e é muito desanimador. Apesar disso, teimo em ter esperança. E no dia seguinte à derrota histórica, tive a prova de que Deus é brasileiro mesmo: a Argentina foi para a final e, já que vamos perder de qualquer maneira, que não seja para o vizinho que mais gosta de nos zoar.

Ainda podemos ter a esperança de que a Alemanha aplicará um belo chocolate nos hermanos. Assim, ficamos quites, sem aquela sensação frustrante de que pagamos uma Copa para a Argentina ganhar — imaginem se isso acontece: nunca mais dormiremos com um barulho desses. Os alemães, apesar do massacre de 7×1, merecem nossa simpatia e nossa torcida. Agora mais do que nunca! Eu só fico com pena do menininho argentino, que teimava em torcer pelo Brasil. Que em breve possamos ouvi-lo dizer: Los alemanes son buenísimos, ganan a todos.

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