Nós e nossos tigres

Já iniciamos nossa maratona para assistir aos filmes candidatos ao Oscar de 2013. O primeiro foi “As Aventuras de Pi”, dirigido por Ang Lee. Pesquisando um pouco na internet, descobri que minha visão sobre o filme é bem particular. Não encontrei nada parecido com o que penso. 

 download (2)Dois pontos me chamaram a atenção no filme: a fotografia e o enredo.  A fotografia impressiona, principalmente com imagens de bioluminescência. Acontece que a bioluminescência é um fenômeno comum no mar, mas especialmente abundante nas profundezas, por óbvias razões. Assim, aquelas imagens de luzes no mar (em abundância) nada mais são do que uma bela licença poética. Não vejo nisso um problema: arte é arte.

O enredo é interessantíssimo. De uma história fantástica passa a ser reflexiva. “As Aventuras de Pi” é um filme profundo do início ao fim. Pi conta a um jornalista, a história de sua vida. Sua infância foi marcada pelo excêntrico nome que fora “batizado” – Piscine Monitor Patel – e sua “luta” para desviar a atenção das pessoas. A inteligência e perspicácia de Pi foram impressionantes! 

Depois, Pi conta sua experiência de mais de 200 dias como náufrago, na companhia de Richard Parker, o tigre que pertencia ao jardim zoológico de seu pai. Era um adolescente, que deixou sua primeira namorada para se mudar com sua família para o Canadá.  A viagem iniciou-se na Índia e uma tormenta depois de uma parada nas Filipinas provoca o naufrágio do navio. Pi sobrevive num barco com um tigre, uma hiena, uma zebra e um orangotango. A hiena matou a zebra e o orangotango e o tigre matou a hiena e quase matou Pi, que “lutou” com ele e o “domou”. O final da jornada é comovente: Richard Parker vai embora sem olhar para trás.

O final do filme mostra que se tratava de uma metáfora. O tigre era o próprio Pi, seu eu interior, com quem ele precisou lutar e domar para sobreviver. Quando chegaram em terra firme, o tigre foi embora. Pi não precisaria mais daquele traço de sua personalidade. Sobrevivera. Estava a salvo. Acho que todos nós temos um tigre interior, que pode aflorar em situações mais estressantes e somos forçados a lidar com ele. Passada a situação estressante, voltamos a ser o que éramos, mas modificados pelo que vivemos. Afinal, aprendemos bastante em situações extremas.

Ang Lee foi majestoso na maneira como contou a história. O filme possui um forte componente artístico, desde a atuação de Suraj Sharma, que interpretou o protagonista quando jovem, até as fascinantes cenas da natureza viva, do mar e seus seres, da Lua e das estrelas.

Pi era só um adolescente, cheio de conflitos, principalmente religiosos. Tudo o que aprendeu das religiões lhe serviu em sua jornada de náufrago. Todos os valores que aprendemos nos ajudam em nossa jornada terrena. Fiquei um bom par de dias refletindo sobre a vida, meus medos, minhas coragens súbitas, minhas valentias, minhas angústias, meus conflitos… Minha alma possui um tigre escondido, arredio e agressivo. Já veio à tona algumas vezes, não com toda sua intensidade, mas já teve que se impor em situações mais difíceis. E eu tive que lidar com as consequências de sua aparição. E você, já conheceu seu tigre interior?

1 Response

  1. 07/17/2014

    […] aventuras de Pi” – O filme é lindo e já foi alvo de meu comentário aqui no site. Mas não é filme para Oscar, não para este, com concorrentes tão notáveis. Certamente […]