Poesia em pupa

Poucos conhecem algo da obra poética de Machado de Assis. Pois o primeiro livro que ele publicou em sua vida foi Crisálidas, uma coletânea de poesias, tendo as mulheres como tema central. Li uma recente edição publicada pela Editora Martin Claret, um volume da coleção “A obra-prima de cada autor”.

CrisálidasMachado de Assis dispensa maiores apresentações. Autor de obras consagradas como Dom Casmurro, Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, Machado de Assis é conhecido como romancista e contista e sua obra em verso é desconhecida do grande público, muito provavelmente pelo fato de ele não ser um poeta tão brilhante quanto prosador. Mas sua poesia merece destaque pela figura que Machado representa, como fundador da Academia Brasileira de Letras e, sem dúvida, o maior nome da literatura brasileira.

Crisálidas foi publicado em 1864, quando Machado de Assis contava com apenas 25 anos. É uma coletânea de poemas de sua autoria, incrementada com poemas de Alfred de Musset, André Chênier, Emile de Girardin, H. Heine, Alexandre Dumas Filho e Mickiewicz. Merece destaque o poema “Versos a Corina”, que é composto por seis partes, cinco das quais foram publicadas separadamente em jornais da época. Corina, além de musa, foi, digamos, o primeiro amor de Machado, antes de Carolina, com quem viveu por 35 anos.

É interessante notar que o estilo de Crisálidas é bastante romântico, com alguns toques objetivos que remetem ao parnasianismo. A verve romântica do autor está bem representada nos “Versos a Corina”:

“Guarda estes versos que escrevi chorando,
Como um alívio à minha soledade,
Como um dever do meu amor; e quando
Houver em ti um eco de saudade,
Beija estes versos que escrevi chorando.”

O toque parnasiano pode ser notado nos versos de “Epitáfio do México”:

“Ante o universo atônito
Abriu-se a estranha liça
Travou-se a luta férvida
Da força e da justiça;
Contra a justiça, ó século,
Venceu a espada e o obus.”

Também me chamou a atenção o título da obra: Crisálidas. Para quem não sabe, crisálida ou pupa é um estádio da metamorfose de muitos insetos. É a fase em que a larva se encerra em um casulo e pouco se movimenta, para sair dali já na forma adulta. Achei essa escolha bastante significativa. Não faço a menor ideia do que se passava na mente de Machado de Assis quando nomeou o livro, mas me atrevo a interpretar como uma fase intermediária entre o início de sua carreira como escritor (de peças de teatro) e a maturidade que veio depois, com os primeiros contos e os romances.

Recomendo àqueles que gostam de poesia a leitura de Crisálidas. Não esperem encontrar nele o brilhantismo da prosa machadiana, mas sua leitura vale a pena como um exercício para conhecer melhor o autor em suas primeiras letras e, principalmente, como um incremento e diferencial cultural, já que a poesia de Machado de Assis é desconhecida do grande público.