Lupanar institucional

Pantaleón

Não, não vou escrever sobre o nosso Congresso Nacional, muito embora o título deste texto seja bastante apropriado ao tema.  Quero mesmo é contar-lhes sobre o livro “Pantaleón e as visitadoras” de Mario Vargas Llosa, numa publicação da Biblioteca Folha.

A história é criativa e inusitada.  Pantaleón Pantoja é um seriíssimo capitão do exército peruano  que recebe de seus superiores a missão de coordenar o Serviço de “visitadoras “do Exército daquele país, já que os soldados que serviam na Amazônia peruana, por falta de  mulher, andavam “atacando” as  donzelas e senhoras de família.

Com uma liderança de dar inveja e uma organização cuidadosa e minuciosa, Panta – como era conhecido o capitão – instala o “Serviço de Visitadoras para Guarnições, Postos de Fronteira e Afins” (SVGPFA) e, de quebra, passa a fazer parte de um mundo de vícios e luxúria, despertando a inveja dos homens locais e a raiva das mulheres e dos interesseiros de plantão. O serviço era impecavelmente organizado, baseado na capacidade de trabalho de cada “visitadora” combinada à necessidade sexual de cada homem. Panta mobilizou fundos do Exército e veículos da Marinha e da Aeronáutica para a prestação do “serviço”. Ocorre que Panta, casado, vivia com sua mulher, sua filhinha e sua mãe. Toda a cidade já sabia qual era o negócio do Sr. Panta, menos sua família, é claro, que pensava que ele fazia um serviço de inteligência para o Exército. Bem, não é de se espantar que Panta tenha se apaixonado por uma das visitadoras, justamente a que tinha a alcunha de “Brasileira” (não podia ser outra?), por ter vivido alguns anos em Manaus e a visitadora mais desejada pelos soldados. Não vou aqui contar toda a história, mas creio que podem imaginar o quão inusitadas e engraçadas são as situações apresentadas neste livro, além da forte crítica satirizada do exército que, por sua vez, tomaria o poder no Peru em um golpe de estado em 1968.

“Pantaleón e as Visitadoras” foi escrito em 1963 e é reconhecido como uma das obras de referência de Mario Vargas Llosa. Embora tenha sentido uma certa agonia no início, ocasionada pelo estilo particular de Vargas Llosa, a leitura fluiu tão agradavelmente depois, que li o livro praticamente todo durante a viagem de volta de Honolulu para Brasília. Vargas Llosa é considerado um dos mais completos escritores hispanoamericanos tendo, inclusive, publicado um celebrado livro sobre a nossa guerra de Canudos, “A guerra do fim do mundo”. Politizado e com uma verve questionadora e crítica da sociedade em suas obras, Vargas Llosa concorreu à Presidência da República do Peru em 1990, mas para a nossa sorte, não ganhou. Continuou escrevendo e encantando o mundo todo e, não por acaso, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura do ano passado. Preciso dizer mais?