Aventura e magia na África

El_bosque_de_los_pigmeosVoltei a estudar espanhol depois de um intervalo de 10 anos e para comemorar minha decisão, achei por bem adquirir um livro nesta língua (que não fosse muito grande), para aprimorar meu vocabulário. Foi assim que me deparei com a obra “El bosque de los pigmeos”, de Isabel Allende.

Logo no início da leitura, percebi que eu não era exatamente o perfil de leitor desta obra, mas a narrativa intensa de Allende me envolveu completamente. O objetivo inicial, enriquecimento do vocabulário, começou a ser alcançado nas primeiras páginas e gastei bastante tempo em consultas ao dicionário nos primeiros capítulos do livro. Depois, deslanchei…

“El bosque de los pigmeos” é o terceiro livro da trilogia “Las Memórias del Águila e el Jaguar”; não senti falta dos outros dois livros, uma vez que a autora teve o cuidado de, em certas partes, contextualizar a relação entre os protagonistas Alexander e Nadia. “El bosque…” narra uma expedição (jornalística, não científica) na África, permeada por aventura (já que o grupo se perde), magia e poderes sobrenaturais, juntamente com a descoberta do amor entre dois adolescentes. O que torna esta obra especial é a narrativa vibrante e envolvente de Isabel Allende, tanto que cheguei a perder noites de sono, tamanha a ansiedade causada pela leitura e a espera pelos novos acontecimentos dos capítulos vindouros, apesar do enredo ser totalmente voltado ao público juvenil.

O livro traz belas e autênticas descrições da floresta africana, em meio a lendas, mitos, eventos sobrenaturais, animais e espíritos. Além disso, traz também boas “lições” aos jovens, sendo que duas delas merecem destaque: (i) que homens de poder são susceptíveis à adulação, podendo dar-lhes o elogio mais ridículo que eles acreditam (fato cotidianamente observado aqui em Brasília) e; (ii) que cada um tem sua verdade e todas são válidas.

Mas, cri-cri que sou, percebi alguns furos no livro. Nadia é uma brasileira da floresta Amazônica, onde Alexander a conheceu juntamente com sua avó, Kate Cold, no primeiro livro da trilogia. Pelo que entendi, Nadia foi morar com Kate em Nova York para estudar e Alexander morava em outra cidade com seus pais, mas era bem ligado à avó. Bem, acontece que Nadia levou seu “animalzinho de estimação”, um macaquinho, para Nova York. Como ela conseguiu passar por todas as etapas para transportá-lo? Cadê o IBAMA, o CGEN, acusações de biopirataria? Sabemos de todas as deficiências da fiscalização, mas um macaquinho de estimação não passaria despercebido, não é mesmo? Tudo bem, vale aí uma licença para a ficção…  Mas, para mim, o pior furo foi a brasileira dizer que era imune às picadas de insetos e possíveis doenças só porque era da Amazônia. Sabemos que não é bem assim: malária e leishmaniose são sérios problemas de saúde pública naquela região, ainda que as pessoas estejam acostumadas com as picadas de insetos: perpetuação de mitos passados ao leitor…

Enfim, apesar dos furos, considero “El bosque de los pigmeos” uma obra bem adequada ao público juvenil, até porque tem lá suas semelhanças com a série Harry Potter de J.K. Rowling. Além de aventura, fantasia e magia, ambas encantam jovens e adultos, com suas narrativas fantásticas, envolventes e vibrantes.