Uma crônica fútil

Uma crônica fútilGosto de observar o comportamento humano e até me divirto com algumas pessoas. Com outras, constato o que considero o maior dos males da nossa sociedade: a superficialidade, o parecer e aparecer mais do que ser. Dois exemplos bem recentes de “celebridades” demonstram o quão superficial anda a vida, e o quanto muitas relações são tóxicas. Para variar, aí vai uma crônica fútil.

Primeiro caso: Naldo Benny. O funkeiro agrediu a mulher que, por sinal, é uma dessas mulher-fruta — até hoje não entendo como fizeram sucesso, ainda que momentâneo. A mulher Moranguinho, humilhada depois de levar até chute de um cavalão daqueles, o denunciou, passou por exame de corpo delito e saiu de casa com a filha e com uma medida protetiva embaixo do braço — o marido não pode chegar perto dela. Há pouco tempo, víamos matérias jornalísticas da vida feliz da família: Naldo exibindo, orgulhoso, a mulher, os filhos e a casa nova. As redes sociais do casal viviam cheias de fotos esbanjando sorrisos e harmonia.

Imaginem o susto dos seguidores — e de qualquer mortal — quando Moranguinho revelou que as agressões ocorrem há sete anos, ou seja, desde o início do relacionamento, muito antes de se casarem. Mas ela decidiu se casar assim mesmo. Amor? Como amar alguém que lhe agride, lhe humilha? Bom, durante esses sete anos apanhando, Moranguinho não deixou de postar fotos com Naldo, mostrando-se apaixonada e feliz da vida.

Bem, casaram-se em 2013, com a pompa à moda funkeira. Pela lógica, depois de três anos levando na cara dava tempo de desgostar e se esquivar do laço matrimonial. À época, não tinham a filhinha, que está agora com três aninhos. Mais quatro anos de agressões poderiam ter sido evitados facilmente.

O funkeiro admitiu a culpa e disse estar buscando ajuda psicológica, que “em nome de Jesus”, vai conseguir mudar. Opa, inclua Jesus fora dessa, por favor! Quero só ver quanto tempo a Moranguinho vai ficar longe de seu marido-agressor.

Outra demonstração da superficialidade dos nossos tempos é a guerrinha de fotos entre a ex e a atual do cantor sertanejo Zezé di Camargo. Pa-té-ti-co. Se a atual posta na rede social uma foto de biquíni, a ex vai lá e publica uma sua de biquini. Tudo exposto e, por que não dizer, documentado nas redes sociais.

Esse caso é tristíssimo, porque a família lava a roupa suja pela mídia e pelas redes sociais há anos — quem quer, acompanha as baixarias em tempo real, basta seguir os personagens.

A ex não se conforma de ter sido trocada por uma moça 30 anos mais jovem. É dureza mesmo, verdade seja dita. Contudo, a coisa mais comum do mundo é vermos velhos endinheirados com moças novas — a começar pelo presidente da república. E o Sr. Zezé di Camargo não é o que se possa chamar de velho-ryco-xexelento, além de ser um sertanejo star. O que é difícil compreendermos é como a vida da D. Zilu Camargo parece girar em torno do que a atual do cara faz.

O que importa é arrebanhar seguidores e se fazer eternamente de vítima. Sem contar a necessidade de autoafirmação, posando como se fosse uma garotinha, numas de “vejam só o que ele está perdendo”. Ainda que o dinheiro pague as cirurgias plásticas que a deixam com um corpo invejável, além dos retoques photoshopianos, é preciso dizer: menos, querida, menos. Por que não sair desse casamento com mais dignidade? Por que não erguer a cabeça e virar a página?

Dignidade, hombridade — palavras esquecidas nas páginas dos dicionários. O negócio é aparecer e aparentar ser o que não é. Naldo não é o pai de família que as fotos nas redes sociais mostravam, infelizmente. E a D. Zilu está longe de ser uma mulher segura de si. Tenho cá pra mim que ambos são infelizes, mesmo com todo o dinheiro de que dispõem. O Instagram é um mundo de ilusão, uma enorme farsa.

Agora, extrapolem tudo o que comentei sobre as “celebridades” para boa parte dos políticos. São experts em parecerem estar ao lado do povo, mas se importam apenas consigo mesmos e seus comparsas. Já levam a sério a superficialidade de relacionamentos e situações muito antes da existência das redes sociais. Constroem sua figura pública com base em mentiras e em meias-verdades, criam ilusões.

Assim, todo cuidado é pouco com as redes sociais nas próximas eleições — vão juntar a fome com a vontade de comer. Porque, da mesma forma que constroem sua imagem com mentiras, podem destruir reputações e inviabilizar candidatos sérios com apenas um clique. Em política, não se trata apenas de aparecer e aparentar: é disputa, é jogo sujo. Não podemos nos deixar enganar e participar da sujeirada, manipulados por postagens encomendadas e robotizadas.

Estejamos atentos: o jogo já começou.

Foto: Jornal Extra