Tango argentino
Ouvi aquele tango argentino
Choroso de amor
No café da livraria
Ali perdi o tino,
Entrei em torpor
Em transe, quase agonia
O gemido semidivino
Do bandoneón era um clamor
A mágoa que meu peito sorvia
O que eu não sabia
E jamais poderia supor
Era a solidão de beduíno
Foi assim que perdi a poesia
Em meio às notas de dor
Um golpe fatal do destino
De desgosto eu me vestia
E não conseguia compor
Nem meio verso alexandrino
Até o dia em que tocou o sino
E senti aquele doce-acre olor
O tango? Eu nem mais ouvia
Foi a morena de sangue latino
Com o seu gingado sedutor
Que meu coração remexia
Senti que a tristeza cedia
E o mundo voltou a ter cor
De alegria agora eu me ilumino
Vi que a poesia renascia
O verso voltou sem pudor
Como exímio dançarino
Então, ao amor eu me inclino
A ele todo o meu louvor
Adeus, vida sombria
Agora outra história se inicia
E seja lá como for…
Não quero outro tango argentino!